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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Resenha: Emmanuel, Médium do Cristo

Resultado de imagem para livro emmanuel, médium do cristoTítulo: Emmanuel, O Médium do Cristo
Autor: Carlos A. Baccelli/Inácio Ferreira
Edição: 1ª
Gênero Literário: narrativa dialogada
Copyright 2012
Editora: LEEPP – Livraria Espírita Edições “Pedro e Paulo”
ISBN: 978-85-60628-38-4
Páginas: 290

O médium Carlos A. Baccelli nasceu em Uberaba, MG, em 09/11/1952. É casado com a professora Márcia Queiroz Silva Baccelli, é pai de dois filhos, Thiago e Marcela. Participou da Mocidade Espírita de Uberaba.

O médium psicógrafo não é exatamente uma unanimidade em matéria de credibilidade, sendo bastante contestado quanto ao teor de suas obras. Tem uma parceria espiritual com Inácio Ferreira, um médico psiquiatra diretor do hospital psiquiátrico de Uberaba, desencarnado em setembro de 1988, aos oitenta e quatro anos. Segundo consta, Chico Xavier teria, a partir de determinado ponto do seu mediunato, se afastado de Baccelli, por não concordar com as manifestações por intermédio dele, Carlos.

Baccelli é acusado de praticar a chamada “leitura fria”, isto é, um tipo de mistificação em que um médium finge estar recebendo uma comunicação espiritual e, na verdade, por meio de muita habilidade, manipula sutilmente seu consulente no sentido de revelar dados de sua própria vida, para depois utilizá-los como elementos identificadores dos textos dos espíritos comunicantes, nos casos de cartas consoladoras – em que um parente próximo vem consolar a mãe ou o pai encarnado, após a sua desencarnação.  Frequentemente, nesses casos, o desencarnado fornece dados somente do domínio de poucas pessoas da família, com intuito de fazer valer sua identificação.

Baccelli utiliza o método já consagrado – e, note-se – utilizado na antiguidade por Platão: os diálogos. Tal técnica textual permite informações bastante objetivas, porque inteiramente orientado pelo que se quer esclarecer ou discutir. Entretanto, aqui nesse Emmanuel, Médium do Cristo, é um processo diferente porque está mais para entrevista. E entrevista do próprio médium que, teoricamente desdobrado, conversa com Inácio Ferreira, ora interagindo nas conclusões, ora nas explicações.

O livro advoga a tese já conhecida de Chico Xavier e Allan Kardec serem o mesmo espírito, ou seja, Allan Kardec teria retornado, desta vez numa encarnação no Brasil, como o médium Chico Xavier, para completar sua obra. Esta tese é por demais conhecida, defendida com argumentos de peso por alguns, combatida igualmente com argumentos válidos por outros. Para quem gostar deste tipo de discussão, recomendo a leitura do excelente e sério livro As Marcas do Cristo, em dois volumes e editado pela FEB, de Hermínio C. Miranda, já desencarnado. É um estudo minucioso e comparativo entre as personalidades de Paulo de Tarso e Martinho Lutero, fundador do Protestantismo. Pessoalmente, admiro o estudo do Hermínio, mas não tenho qualquer entusiasmo em questões como estas.

Emmanuel, Médium do Cristo procura expor a ideia central, consoante o título, de que o espírito Emmanuel, que orientava espiritualmente Chico Xavier, na verdade, teria mais autoridade do que isso: seria ele o médium diretamente ligado a Jesus, supervisionando todo o nascer e desenvolver do espiritismo na Terra, orientando e comandando todos os espíritos que participaram da implantação da doutrina dos espíritos.

Lendo o livro com a máxima isenção possível, notamos algumas interessantes colocações, como por exemplo, um relacionamento entre vários livros do Chico, uma tentativa didática de divisão do conjunto da obra xaveriana.

A atitude de qualquer espírita comprometido com a doutrina codificada por Kardec é de cautela com as informações. Melhor seguir o exemplo do mestre lionês, aguardando sempre a universalidade das informações antes de sacramentá-las como verdades. Bem sei o quanto tal atitude é difícil de se conseguir, num tempo em que somos incentivados a sermos instantâneos, isto é, a adotarmos como verdade qualquer coisa dita ou escrita por meios de comunicação atuais. Pelo menos em termos de massa, tem nos faltado espírito crítico no tocante às informações que nos chegam a toda hora, por todos os meios.


Sei que as obras da dupla Carlos A. Baccelli e Inácio Ferreira são muito lidas de muita gente e é exatamente por esse motivo a existência dessa resenha. Entretanto, recomendo explicitamente, o que o mentor Emmanuel recomendou ao médium iniciante Chico Xavier: disciplina, disciplina, disciplina!

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Resenha: Ignácio de Antioquia, de Geraldo Lemos Neto/Theophorus


Resultado de imagem para livro Ignácio de AntioquiaLivro: Ignácio de Antioquia – Episódios Históricos do Cristianismo Primitivo
Editora: Vinha de Luz Serviço Editorial
Ano de Publicação: 2009
Edição: 2ª, revista e ampliada
Psicografia: Geraldo Lemos Neto
Espírito: Theophorus
Gênero: Romance histórico psicografado (espírita)
Páginas: 554
ISBN: 9788599065129

Geraldo Lemos Neto nasceu em 1962, em Belo Horizonte, no seio de uma família espírita. Muito jovem já em contato com a doutrina espírita, ingressou neste movimento por influência dos parentes do lado materno, a família Machado, de Pedro Leopoldo e contemporânea do maior médium brasileiro, Francisco Cândido Xavier – o Chico Xavier.

Intensa atividade tem caracterizado Geraldinho, como Lemos é conhecido de seus pares. Foi amigo pessoal do Chico. Participou da mocidade espírita O Precursor e da Cantina Francisco de Assis, ambas vinculadas à União Espírita Mineira. Fundou o departamento editorial da referida instituição; em 2004, fundou também a editora Vinha de Luz, especializada na publicação de obras póstumas de Xavier. Em parceria com a Dra. Marlene Nobre, publicou o opúsculo “Não Será em 2012”, sobre previsões de Chico sobre a chamada transição planetária e o papel do Brasil no cenário mundial.

Ignácio de Antioquia – Episódios Históricos do Cristianismo Primitivo é um romance histórico com a psicografia de Geraldo Lemos Neto e autoria espiritual de Theophorus. Conta com uma rica reconstrução histórica:

“Acompanhamos o grande movimento de semeadura da Boa Nova do Cristo nos corações dos povos gentios, iniciado por José Barnabé de Cyprus e Paulo de Tarsus da Cilícia, e, mais tarde, desdobrado pelo próprio João e seus diversos seguidores: Johannes, Erasto, Ignácio, Heleno, Jacob, Policarpo e outros tantos.Relembramos as paisagens queridas de Antioquia da Syria, às margens do Orontes, e o devotamento de vários trabalhadores da Vinha do Senhor como Manahen, Tito, Trófimo, Tíquico, Barsabás, João de Cleofas e mais alguns...” (página 16, À guisa de prefácio, por Theophorus)

A estrutura do livro se faz em quatro partes. Na primeira, temos “Semeadura – Infância/Juventude”; na segunda, “Crescimento – Maturidade”; na terceira, “Frutificação – Madureza/Imortalidade”. À quarta parte se reservam um posfácio, notas explicativas, referências bibliográficas, bibliografia indicada, anexo I/Mensagem do Bispo d’Argel.

Impressiona o cuidadoso trabalho de edição, de revisão – tanto ortográfica quanto doutrinária – e de reconstituição do ambiente e dos personagens.

Após a desencarnação de Jesus, o trabalho minucioso, corajoso e incansável dos apóstolos na disseminação da Sua mensagem são ressaltados neste trabalho, com verdadeira perícia. Aliás, creio aqui ser oportuno fazer a diferença entre os termos discípulos e apóstolos. Discípulo quer dizer aprendiz, aquele que aprende com o seu mestre; então, enquanto acompanhavam o Cristo, ouvindo-lhe a mensagem a aprendendo sobre a doutrina cristã, aqueles doze homens eram chamados de discípulos. Entretanto, após a morte de Jesus, quando põem em ação todo o treinamento obtido, tornam-se apóstolos, isto é, aquele que foi designado, que foi escolhido para a divulgação dos ensinamentos.

Trabalho sempre difícil, cansativo, desgastante, não só pelas viagens constantes sob péssimas condições (os caminhos eram precários, feitos para homens a pé ou, no máximo, montados em burros), mas também pelo enfrentamento da descrença, indiferença ou até mesmo agressão dos que não comungavam dos mesmos ideais.

Pouco a pouco, do meio daquele caldo de cultura, vai surgindo a figura valorosa de Ignácio de Antioquia, homem simples, de bom coração e extremamente fiel ao Cristo. O próprio mestre o encontra ainda criança, certa feita, e o trata carinhosamente. O pequeno Ignácio jamais esquecerá esse encontro.

Em certo dia de verão intenso na cidade de Cafarnaum se inicia nossa história:

“O sol quente se refletia sobre as águas verdes-azuis do lago de Genesareth, denotando a presença do verão escaldante da Galilea.Cafarnaum era movimentado entreposto de comércio, às margens ao norte do lago também conhecido como o Mar da Galilea ou o Mar de Tiberíades.
A cidade regurgitava no atropelo das gentes de todas as procedências, cada qual demandando seguir seus objetivos imediatos, sem preocupar-se com os circundantes.
No meio da multidão, como a vaguear sem rumo certo, desventurada mulher tropeçou numa das inúmeras tendas de comércio instaladas na praça central, à beira do lago.
Malaquias, o comerciante, contrafeito ao ver suas mercadorias espalhadas desordenadamente pelo solo empoeirado, exclamou, colérico:
‘- Safa-te daqui, infeliz! Que fizeste, oh, desvalidada mulher? - Perdoai-me, senhor! – exclamou a pobre Sara. – Compadecei-vos de minha desventura!” (página 23)

O rompante de Malaquias rapidamente se ameniza, ao ver as condições de Sara. Ela era a mãe do pequeno Ignácio. Resumo, o comerciante não só cuida dela, mas a emprega como ajudantes nos trabalhos de casa, sob insistência de sua mulher. Sara, entretanto, não sobrevive muitos anos, embora os que lhe reste sejam de tranquilidade. Ignácio se torna órfão, mas é cuidado pela família de Malaquias.

Enquanto ele cresce, em contato com a mensagem do Cristo, ele pouco a pouco vai assimilando o sentido amplo daquelas palavras de amor, que falam constantemente de um reino que não é daquele mundo. É exatamente Ignácio de Antioquia – a quem o cristianismo tanto deve e quem esqueceu – a figura central dessa obra.

A luta constante para vencer suas próprias deficiências, a dedicação ao trabalho divulgador da Boa Nova e o resgate deste homem exemplar são motivos mais que suficientes para o espírito Theophorus expurgá-lo do esquecimento. Não obstante, a missão abraçada por Ignácio aguarda episódios trágicos na Terra, enquanto cada vez mais seu espírito se fortalece e para ele e seus seguidores são destinadas glórias espirituais.

Estamos falando, portanto, de um autêntico romance espírita: uma obra romanceada, com uma clara mensagem moral de amor ao próximo e fidelidade aos mais elevados valores espirituais. Embora, de acordo com Theophorus, a obra não tenha por objetivo fazer literatura, com belos fraseados, a verdade é que temos aí um texto de inegável valor literário, história bem escrita, bem conduzida, com informações dispostas didaticamente, a fim de levar o leitor a acompanhar a formação de um personagem. Enquadra-se, por essa marcada característica, nos romances de formação. Enfim, é uma obra muito além do simples divertimento.

Aqui temos as ações dos doze apóstolos; pouco a pouco, vão desencarnando, dando suas missões como terminadas no solo terreno. Ignácio de Antioquia é um legítimo continuador do apostolado, exatamente no período em que as forças contrárias à divulgação dos ensinamentos do cristianismo primitivo tentarão extirpá-las.

E – uma última questão – qual seria a importância desta obra para o espiritismo? Ora, a doutrina dos espíritos, codificada por Allan Kardec no século XIX é toda calcada naquele cristianismo primitivo. A mensagem pura do Mestre Jesus será objeto dos trabalhos incansáveis do professor lionês, agora dotada de explicações lógicas, onde se evidenciam, além do “amar ao próximo como eu vos amei”, a lógica imbatível da lei de ação e reação, da reencarnação como ferramenta de depuração do espírito, da lei de evolução que nos levará a todos à casa do pai, já que “nenhuma ovelha se perderá do redil”.

domingo, 17 de julho de 2016

Resenha: A Nova Jerusalém, de Antonio Demarchi e Irmão Virgílio

Resultado de imagem para livro a nova jerusalémTêm-se tornado bastante frequentes obras espíritas abordando o momento de transição da Terra de planeta de Provas e Expiações, para de Regeneração, de acordo com a escala evolutiva dos mundos, proposta por Allan Kardec.

Neste quesito, destaca-se o trabalho feito por André Luiz Ruiz, notadamente em suas palestras sobre a matéria e em seus livros Exilados Por Amor, Herdeiros do Novo Mundo e No Final da Última Hora. Todos em parceria com o espírito Lúcius.

Digno de nota, ainda, sobre essa questão da transição planetária, é o trabalho Jornada dos Anjos, do mesmo espírito Lúcius, com a psicografia de Sandra Carneiro; Transição Planetária, de Manuel Philomeno/Divaldo, Planeta Terra em Transição, de Izoldino Resende/Ismael, etc.

Antonio Demarchi e irmão Virgílio nos dão esse A Nova Jerusalém, volume de 313 páginas de um texto agradável de se ler. Agradável e, até certo ponto, perturbador, igualmente, se o leitor não estiver acostumado ao tema.

Muito das informações contidas nesse volume não são novas, o que, muito longe de se tornarem enfadonhas, reforçam aquele princípio a ser observado, conforme recomendado pelo mestre Allan Kardec, o do universalismo das informações. Além disso, constitui-se a reinserção daquelas informações um mecanismo para melhor situar o leitor. A Terra está em plena passagem transformadora, aparentemente, vivendo um caos social, político econômico; entretanto, reforçam-nos vários instrutores espirituais, nada está fora de controle. Jesus está no leme, como governador do nosso globo.

A Nova Jerusalém vai se valer fortemente do apocalipse de João, transcrevendo-lhe passagens reveladoras nas páginas de abertura dos capítulos e tomando-as como mote, a ser melhormente explanadas no corpo do capítulo.

As exortações de perseverança na fé, na retidão de caráter, na decisão da reforma íntima – tema de resto tão caro a qualquer religião – aparecem também nessa obra. A ideia de cataclismos naturais, modificações sociais, o exercício da violência, que nos parece completamente sem controle, fazem parte dos alertas. É a separação do trigo e do joio, os tempos são chegados.

Irmão Virgílio procura nos informar das providências tomadas no plano espiritual superior, dando àqueles que acreditam, a segurança – ponto para a obra. Não obstante, mostra-nos também, em pinceladas rápidas, o que está por vir – as coisas ainda não atingiram o máximo – o que, para nós, espíritos ainda muito inferiores e titubeantes na fé, soa assustador.

Concordo com a explicação de que é melhor eu ter conhecimento, ainda que parcial, dos fatos num futuro próximo a ficar na mais completa ignorância. Teremos condições de nos preparar melhor. Ademais nada de novo está sendo dito.

Novas informações: uma explicação do simbolismo “666”, marca da besta; a questão do “planeta chupão”, como dito por Chico Xavier; as colônias espirituais destinadas a realizar a aclimatação perispirítica dos seres a serem transferidos para Absinto, o planeta das desolações.

Aborda também o minucioso trabalho dos espíritos compromissados com o mal, através das personagens Polifemo, Deimos, Érebo e Tánatos. Esses seres já sabem que serão expurgados da Terra, mas esposam a filosofia de “quanto mais espíritos incautos arrastarem consigo para o planeta do exílio, melhor”. Seu império estará garantido. Entretanto, eles mesmos não sabem que, agindo assim, cumprem as leis divinas, tão bem lembradas pelas palavras de Jesus: “é necessário que venha o escândalo, mas ai daquele por quem venha o escândalo.

Em verdade, nada – absolutamente nada – pode acontecer fora da permissão divina, ou Ele não seria Deus. Dessa forma, espíritos do bem, voltados à causa da evolução humana também trabalham invisivelmente, respeitando-nos o livre arbítrio.

Excelente livro, lido quase de uma sentada. Recomendo!

DEMACHI, Antonio & Irmão Virgílio (espírito). A Nova Jerusalém. 1ª Edição. Editora Intelítera. São Paulo, SP: 2015

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Resenha: Sexualidade e Saúde Espiritual, de Alírio de Cerqueira Filho (org.)

Alírio de Cerqueira Filho, o organizador deste volume, é o coordenador do Projeto Espiritizar, da Federação  Espírita do Estado de Mato Grosso. Ele é envolvido com o movimento espírita desde 1980. Com profissão de médico, é também biólogo com ênfase em ecologia; pós-graduado em Medicina Homeopática, Psiquiatria, Psicologia e Psicoterapia Transpessoal. Conta, ainda, entre suas especificações, a Terapia Regressiva a Vivências Passadas e Especialização na Arte de Programação Neurolinguística.

A formação acadêmica, em muitos casos, não pode servir de atestado a boas obras espíritas; muito frequentemente, os acadêmicos trilham outros caminhos, notadamente o da negação sistemática daquilo que não podem provar. Não é o presente caso. A vasta área de interesse ou de atuação do Dr. Alírio o qualifica fortemente para o trabalho em questão.

O Projeto Espiritizar, de acordo com a sinopse do próprio livro, “tem como base o Evangelho de Jesus, as obras de Allan Kardec e a tríade Qualificar, Humanizar e Espiritizar, proposta pela Mentora Joanna de Ângelis ao Movimento Espírita, pela mediunidade de Divaldo Franco”.

Tema extremamente delicado, pela confusão ocasionada por ideias pré-concebidas e pela enorme quantidade de tabus. A equipe coordenada pelo Dr. Alírio trata de subtemas como Sexo e saúde espiritual, Sexo, sexualidade e sexualismo, Identidade sexual, Sexo e erotismo, Incesto, Pornografia, Masturbação, Erotização da infância, Pedofilia, Estupro, Aversão ao sexo, Sexo e obsessão, entre outros subtemas palpitantes e oportunos.

Somo espíritos ainda iniciantes nas primeiras escalas da evolução, ainda muito próximos aos animais. Todos, indistintamente, temos problemas a resolver, forças a equilibrar na área do sexo. Preconceitos, mau uso, desequilíbrios vários ainda estão presentes na nossa personalidade. O sexo envolve tão grande quantidade de energia que é quase impossível não lhe sofrermos os desvarios. O prazer é viciante, se não bem orientado.

A obra Sexualidade e Saúde Espiritual – Reflexões sobre sexo, sexualidade e sexualismo tem profunda importância exatamente pela honestidade com que trata o assunto, sem peias. Construído em torno de uma divisão em seis capítulos, a saber, 1) As perspectivas atuais do sexo, do sexualismo e da sexualidade; 2) Questões sobre sexo, sexualidade e sexualismo; 3) Dissertações sobre sexualidade e saúde espiritual; 4) Sexualidade, sexualismo e as leis divinas; 5) Energia dos chakras e sexualidade; 6) Depoimentos de espíritos que faliram devido a viciações sexuais.
No capítulo 5, Energia dos chakras e sexualidade, os sete centros de forças que compõem nossa sustentação energética são tratados do ponto de vista da escola Tibetana (há várias escolas sobre o assunto). Um esquema absolutamente importante nos relaciona estes chakras, relacionandos-os com suas funções morais e virtudes equilibradoras. São apontadas suas características quando em funcionamento equilibrado, as alterações em hipoatividade (girando mais lento que o normal) e em hiperatividade (girando mais rápido que o normal).

Para se ter um exemplo, no caso do chakra raiz, existente na base da coluna vertebral, quando em funcionamento equilibrado, ele é o responsável pela segurança (senso de realidade essencial). Em hipoatividade, gera-se a insegurança; em hiperatividade, a temeridade. As virtudes essenciais responsáveis pelo equilíbrio são a humildade e mansidão. Os sentimentos egoicos responsáveis pelo desequilíbrio são o orgulho e a rebeldia.

Sexualidade e Saúde Espiritual – Reflexões sobre sexo, sexualidade e sexualismo, por tudo que foi aqui exposto, configura-se como uma importante contribuição aos nossos conhecimentos atuais sobre tema tão difícil. Se quisermos nossa evolução, é imperiosa a despoluição das nossas relações com o sexo. Força ligada à função procriadora, portanto em consonância com as leis divinas, expande-se para além desse aspecto, constituindo-se em poderosa troca de energia entre os parceiros, quando feito com respeito e com amor.

Tratado dessa forma, como energia em interação entre os casais, já foi abordado há tempos pela Tantra Yoga; como poderosa força de atração entre os parceiros, já foi também objeto de estudo de Masters e Johson, no famoso livro O vínculo do prazer.

Leitura fortemente recomendada.

CERQUEIRA FILHO, Alírio de (org.). Sexualidade e Saúde Espiritual – Reflexões sobre sexo, sexualidade e sexualismo. Editora Espiritizar. Cuibá, MT: 2014

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Flávia–Sonhos e Regressões

Resultado de imagem para livro flavia sonhos e regressõesFlávia – Sonhos e Regressões é o que podemos chamar de “romance espírita didático”. Por tratar de temas da doutrina codificada por Allan Kardec, é uma obra espírita; pela estrutura narrativa, ele se classifica como um romance. Finalmente, é didático porque tem o claro objetivo de apresentar um estudo de alguns temas do espiritismo, utilizando-se, para isto, de uma história atrativa, interessante.

Para essa resenha, fiz uma releitura da obra, anteriormente lida há muito tempo. Venho notando que o trabalho de síntese necessário à produção de resenhas me faz gravar as obras com muito mais intensidade. Não me lembrava, por exemplo, de tantos detalhes postos em evidência nesse segundo acesso.

O autor de Flávia – Sonhos e Regressões é o médico, estudioso e palestrante espírita, Dr. Ricardo Di Bernardi. O presente trabalho foi sua primeira incursão no campo ficcional; escreveu ainda uma continuação desse romance, Amor, Sexo e Vidas Passadas. Ricardo Gandra Di Bernardi é o pai de Reencarnação e Evolução das Espécies, Dos Faraós À Física Quântica, Voo Livre – Um Estudo Sobre Reencarnação, Navegando nos Mares da Imprensa, Reencarnação, Amor e Sabedoria, Temas Polêmicos do Século XXI, A Reencarnação em Xeque e talvez seu livro mais conhecido, Gestação, Sublime Intercâmbio. Um percurso de peso, como se vê.

Dr. Ricardo é médico homeopata geral e pediatra. Dedica-se também à Terapia de Regressão a Vidas Passadas. Fundou o ICEF – Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis e a AME SC – Associação Médico-Espírita de Santa Catarina. É congressista e palestrante, já tendo, inclusive, participado de Congresso Internacional, apresentando interessante pesquisa sobre a bioeletrografia (fotos Kirlian). Ou seja, além de ser um estudioso, é um pesquisador – características sempre bem-vindas ao desenvolvimento de qualquer área, notadamente à do espiritismo.

A trama envolve Flávia, uma mulher separada do marido, seus dois filhos Caio e Pietro; a amiga de Flávia, Diva – viúva de George – sua filha Isabella. Além desses, vão compor a história o Dr. Bernini – espécie de alter ego do autor –, Linus, um amigo de George e Diva; Regina e Massimo, dirigentes da instituição espírita italiana Sentieri Dello Spirito, de existência real.

Caio, filho de Flávia, tem um problema, um verdadeiro entrave a suas pretensões profissionais:

“Havia um pormenor na vida de Caio  que o incomodava sobremaneira, seu temor de falar em público. Conhecia muito a respeito de determinados temas, dominava os assuntos, mas, quando se via em grupo, e lhe era solicitado pronunicar-se sobre algo, engasgava, engolia em seco e falava o mínimo. Depois, aborrecia-se ao constatar que passara a impressão de pouco conhecer sobre o tema.

Essa dificuldade lhe granjeara algumas notas medianas nas provas orais, muito aquém do seu real merecimento. Para agravar a situação, a ambição que acalentava no seu íntimo era ministrar aulas na universidade, mas, com essa dificuldade, o objetivo lhe parecia ser difícil, mesmo em porvir distante.” (página 39)

A mãe recomenda ao filho procurar o Dr. Benini, famoso  médico que desenvolvia a terapia do insight, metodologia vinculada à regressão de memória. Esse profissional trabalhava com o paciente consciente, levando-o a mergulhar no passado, indo até mesmo a uma existência passada. Na verdade, além de sentir essa timidez diante do público, Caio se caracteriza por ser de caráter introspectivo (não confundir com timidez), mais interiorizado e metódico. Gosta de arte, de leitura, assiste a documentários e prefere música erudita.

Bem ao contrário do irmão Pietro, mais novo, de porte atlético, extrovertido, namorador, esportista – é jogador de basquete. Entre os dois irmãos, apesar de um ser o oposto do outro, reina um clima fraternal, para o orgulho de Flávia.

Os problemas se aceleram quando Flávia passa a ter sonhos, cada vez mais detalhados. Ela se sente identificada com a personagem Flávia Flamínia, filha do senador Octávio, nos tempos do imperador romano César Augusto, em cujo período também se notablizara o poeta Publius Ovidius Nasão, mais conhecido como Ovídio. A reincidência desses sonhos leva Flávia a também procurar o Dr. Bernini.

Os acontecimentos do passado e seus desdobramentos no presente acabam por fazer os personagens se integrarem de novo. Os envolvimentos amorosos do passado se repetem no presente. Alguns conflitos, algumas dificuldades também, pois nem todas haviam sido relações tranquilas, ainda mais dentro de um contexto diferente, como o de Roma antiga e sua cultura.

Diva participa da instituição chamada de Sentieri Dello Spirito e, juntamente com o Dr. Bernini, são a voz “didática” que explica os fatos, as relações, sob uma ótica espírita. Sempre de maneira bem dosada, as informações são passadas ao leitor, o que nos faz pensar que o autor tinha em mente a preocupação de orientar um possível leitor neófito nos assuntos do espiritismo. Tal se torna evidente em dois momentos principais da narrativa: a troca de e-mails entre Caio e o Dr. Bernini, com a entrada posterior de Flávia nessa troca de informações e mais tarde, quando de uma roda de discussões entre vários dos personagens e o famoso terapeuta.

A obra alia uma ótima pesquisa histórica sobre a Roma dos césares, um sólido conhecimento da doutrina espírita e um providencial glossário de referências técnicas e históricas.

O livro é escrito servindo-se o autor de um tempo não completamente ordenado cronologicamente, como seria de se esperar num romance em que vidas passadas (ou, se quiserem, vivências passadas) são um ponto tão importante. O enredo é quebrado por incursões no passado, primeiro pelos sonhos espontâneos de Flávia; depois, pelas recordações induzidas nas sessões de terapia do Dr. Bernini. As lembranças de Caio, ainda que tenham menor importância narrativa, também proporcionam essa quebra temporal.

Não espere, leitor, um romance psicografado, pois não é o caso desta obra. Ricardo Di Bernardi esclarece o fato já na introdução do trabalho. E – do ponto de vista de literatura strictu sensu (sentido estrito, técnico) – não espere ter em mãos um livro de excelentes pendores literários. Na verdade, a obra chega a resvalar, em alguns trechos, nos romances do tipo água-com-açúcar; a seu favor, Ricardo sai-se muito bem dentro do seu projeto, a saber, produzir um romance didático. A história contada consegue segurar a atenção do leitor até o fim, mas a prata da casa são as informações. É um trabalho honesto, fiel ao que se propõe e fiel ao preconizado pela doutrina espírita.

Leia-o, se puder.

BERNARDI, Ricardo Di. Flávia – Sonhos e Regressões. 1ª edição. Editora Intelítera. São Paulo, SP: 2011.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sinfonia da Alma, de Ana Cristina Vargas/Espírito Layla

Resultado de imagem para Ana Cristina VargasAna Cristina Vargas iniciou seus estudos da doutrina espírita quando contava com apenas 17 anos. Sua curiosidade em entender como funcionavam os ditos fenônemos mediúnicos a levaram por esse caminho. Em 2000, começou o trabalho de psicografia de livros, inicialmente inspirada e instruída pelo espírito José Antônio e dessa parceria surgiram as obras Tihuantinsuyo – Os Quatro Cantos do Mundo, subdividos em O Herdeiro, A Virgem do Sol e O Fim E O Início; Ídolos de Barro, Dramas da Paixão, Escravo da Ilusão, O Bispo, Na Ponta dos Pés, O Quarto Crescente, Intensa Como O Mar, A Morte É Uma Farsa. Em colaboração com o mesmo José Antônio e o espírito Layla, produziu a trilogia Em Busca de Uma Nova Vida, Em Tempos de Liberdade e Encontrando A Paz. O último trabalho, esse Sinfonia da Alma, é inspirado somente pelo espírito Layla.

A médium é natural da cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, sendo também fundadora da Sociedade de Estudos Espíritas Vida, na mesma cidade. Algumas dessas obras estão há um tempo fora de catálogo, mas ainda é possível achá-las em sites de venda de livros. O Bispo está em nova edição, à disposição dos leitores.

Sinfonia daResultado de imagem para livro Sinfonia da Alma Alma nos relata um pouco da vida da personagem Denise. Desde pequena, ela convive com um problema estranho: é sonâmbula e quando está nesse estado, assume uma personalidade diferente da atual Denise; entoa canções folclóricas em provençal e mantém contato com alguém chamado Anton, visivelmente muito caro a ela.

Denise também tem outra característica: ama apaixonadamente a música. Sua mãe, Marlene, não aprova a escolha da filha; música não dá futuro a ninguém, no seu modo de entender. Já o pai tem gênio apaziguador, apesar de também não entender a escolha da filha. A conselho dele, no intuito de melhorar as relações entre Denise e Marlene, ele sugere à menina fazer um curso a gosto da mãe e, ao mesmo tempo, cursar sua tão querida faculdade de música.

Os caminhos da vida levam Denise a Paris, pois ela obteve uma bolsa de estudos para se aprimorar em canto lírico na cidade-luz. Nova vida, longe dos problemas com a mãe, que simplesmente não conversa mais com ela, Denise faz novos amizades: Maurice, amigo de primeira hora; Charlotte, companheira de quarto; Max, inglês, residente em Paris e amigo de Charlotte.

Os acontecimentos conduzem Denise a entrar em contato com sua personalidade do passado e novos fatos vão se desencadear, conduzidos por amigos da espiritualidade que se interessam em seu crescimento como espírito encarnado.

Dois personagens magníficos, Berthe – de 63 anos e residente na cidade de Nancy, tia de Charlotte – e Bertoldo, colaborador de Berthe serão de fundamental importância nos eventos futuros. São espíritas, trabalhadores experientes, convocados pela espiritualidade para a tarefa de auxiliar Denise.

O livro é rico e explora o tema da educação mediúnica, além de outros subtemas, não menos importantes, como a liberdade de cada um, a resignação para vencer as provas necessárias ao nosso adiantamento espiritual, o mal que podemos fazer a nós mesmos quando somos excessivamente críticos dos outros e nos mantemos numa postura rígida demais diante dos pulsos renovadores da vida.

De todos os livros desses autores – Ana Cristina, José Antônio e Layla – li quase todos, apenas A Morte É Uma Farsa está à espera. Ídolos de Barro, por exemplo, já li quatro vezes, e pelo jeito, ainda vou lê-lo mais vezes; pelo menos, mais uma vez, pois desejo resenhá-lo para este blogue.

Portanto, com esse histórico, nem é preciso recomendar a leitura de tais obras. Sinfonia da Alma não foge à qualidade de texto tão característica desses autores e à fidelidade à doutrina kardequiana.

Eis alguns trechos para degustação:

“- É de algum espírito? No Brasil tem muitos.

- Não, querida, é de Balzac.

Denise fez uma expressão de espanto, conhecia o nome do    escritor, mas nunca o havia associado a questões de espiritualidade. Aliás, precisava confessar que nunca lera qualquer dos clássicos da literatura francesa.

- Conheço o nome, não sabia que ele escrevia sobre esse assunto. Sei que ele é tido como um clássico da literatura francesa.

- Sim, ele, Victor Hugo e outros escritores da época clássica da literatura francesa eram espiritualistas. Foi um período de investigação e questionamentos, e era natural que esses pensadores tivessem se interessado pelo espiritismo. Mas, para ser justa, esse tema acaba permeando a obra dos pensadores desde a antiguidade até os tempos contemporâneos. Seráfita [de Balzac] será um boa leitura para começar.” (página 176)

“- Claro. O homem mais feio e o mais encantador da cidade. Quem não conhece Bertoldo? Ele é um encanto. Faz tempo que não o vejo. Como está? Muito desarrumado?

- Ah, Charlotte, não fale assim. Ele é tão meigo!

Charlotte riu. “Bertoldo é uma espécie de Shrek da vida real”, pensou.” (página 216)

“Berthe olhou a mão estendida e encarou a jovem. O medo estava ali, um grande monstro velho, pálido e pesado, fragilizando sua hospedeira. Uma cena sentimental, lágrimas e palavras comoventes seriam suficientes para alimentar esse monstro. Então Berthe cruzou os braços e respondeu séria:

- Vença-o. Domine-o. Cresça. Eu me disponho a orientá-la, mas não vou segurar a sua mão. Você não precisa de bengala e não quero dependente. Nós somos seres individuais, temos todo o necessário para viver sobre as próprias pernas. Se você beber da minha força, não descobrirá a sua. A cada dificuldade do caminho, correrá à minha procura. Chegará um dia em que estarei exausta, cheia de você até as orelhas, porque ninguém aguenta ser sugado, sem saber o que lhe tomam. Dependentes simplesmente tomam a vida do outro. E quando chegar o dia em que eu não mais quiser lhe dar a mão e deixar-me sugar, você continuará como uma criança dominada pelo medo. Ele, o medo, terá comido a sua vida e, por tabela, a minha. Você não cresceu, porque se acomodou à dependência e não desenvolveu suas forças. O medo paralisa e a preguiça entretém a estagnação. E o tempo escoará pelos dedos e ficaremos as duas de mãos vazias. Então, Denise, vamos deixar claro desde já: eu a oriento, você estuda e trabalha pelo seu progresso. A luta é sua, encare-a. Não me estenda a mão, trabalhe por si mesma em vez de mendigar as forças alheias. A espiritualidade não é piegas, querida.” (página 204)

Talvez, leitor, esse último trecho transcrito da página 204 lhe pareça excessivamente duro, impiedoso, sem caridade. Entretanto, muitas vezes isso acontece na relação entre terapeuta experiente e paciente, quando este último se recusa a reagir. É a terapia do choque emocional. Realmente, não há lugar para acomodações em nossa evolução, pois tudo é provisório, impermanente. Evolução é sinônimo de movimento. Muito do nosso sofrimento acontece exatamente por admitirmos em nosso íntimo esse monstro, o medo.

Se puder, não perca a leitura muitíssimo proveitosa dessa obra, caro leitor.

VARGAS, Ana Cristina. Espírito Layla. Sinfonia da Alma. 1ª Edição. Editora Vida e Consciência. São Paulo, SP: 2014