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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Quando é preciso partir, de Berenice Germano/Irmã Vitória

Berenice Germano Abrão é paulista, nascida na capital do estado em 06/06/1952. Possui mediunidade de clarividência e audição, desenvolvidas a partir dos dezoito anos. Dedicou-se aos estudos espíritas para entender o fenômeno que lhe possibilitou ver um espírito no quarto de seus pais. Pela sua mediunidade de psicografia junto ao espírito identificado como Irmã Vitória, nos trouxe, até agora, os romances Minha Vida Pelo Seu Perdão, A Sombra de Um Segredo e este Quando é preciso partir.

A história começa na Rússia do início do século XIX, sob o reinado de Nicolau II, último czar daquele país. Nicolau II encerrou, também, o domínio da longa lista da família Romanov. As condições da Rússia de então eram as mais terríveis; o povo oprimido e explorado por uma elite completamente indiferente às mínimas necessidades de seus súditos acabou dando início a um movimento reivindicatório de melhores condições de vida. Tal manifestação foi recebida à bala, numa carnificina desnecessária, pois a marcha do povo era pacífica. Esse foi o estopim da Revolução Bolchevique de 1918, que depôs o imperador. Numa manifestação de ódio contra a elite indiferente, os Romanov, junto com seus nobres, foram assassinados. Lênin subiu ao poder e o sistema monárquico terminou.

Neste pano de fundo, movem-se os personagens do livro. Vladimir é um jovem muito impulsivo, casado com Beatriz e pai do pequeno Ivan. De condições modestas, sente-se comprometido com o movimento iniciante de reivindicações populares. É amigo de Nicolai, rapaz pertencente à guarda palaciana do czar. Este, ao perceber toda a movimentação armada para conter a marcha dos trabalhadores, tenta avisar o amigo, no sentido de não se juntar ao povo. Vladimir já havia saído. A violência estoura e Vladimir é ferido na perna. Em meio à toda desorientação que se segue – lembremos que a manifestação era para ser pacífica – Nicolai encontra o amigo e o leva para a casa do médico. Entretanto, a ferida na perna é muito grave e ele se esvai em sangue. Com tantas pessoas para atender e em condições muito precárias, o médico não pode fazer muito por ele. Sentindo não durar muito tempo mais, Vladimir obtém de Nicolai a promessa solene de ele cuidar da esposa Beatriz e do filho Ivan.

A revolução tem início. Beatriz mora na casa de Nicolai, recebendo, ela e Ivan, o carinho de Anna, mãe do seu protetor. Rapidamente a situação sociopolítica russa se deteriora, vencem os trabalhadores e os partidários ou simpatizantes do regime deposto são expulsos. O grupo de pessoas viajam para o Brasil, país extremamente distante, do qual quase nada sabiam, mas do qual ouviam dizer das oportunidades amplas de trabalho para imigrantes.

A vida deles segue, agora em São Paulo e não é difícil imaginar-se que Nicolai e Beatriz se apaixonam. Novos filhos vão chegando. Muito trabalho, muito esforço, em condições muito duras. Aos poucos, entretanto, liderados pela mãe Anna, vão conseguindo paulatinamente melhoras de vida.

Terão de enfrentar novas situações difíceis, entre as quais, a Revolução Comunista de 1932, no Estado de São Paulo. A família é composta de seres em reajuste cármico, com débitos originados durante o passado, na Rússia, em que tiveram participação desastrosa relativas ao exercício do poder.

Antigos inimigos espirituais vêm causar-lhes desavenças no seio da família, com um caso de gravíssima obsessão, classificada como subjugação – tipo de obsessão em que o espírito obsessor se assenhora dos pensamentos e reações do obsediado.

Não obstante, não faltará ajuda de espíritos do bem, da constante vigilância do mentor daquele núcleo familiar e do possível auxílio de alguns dos parentes já desencarnados. É mostrada a lei de ação e reação, os mecanismos de reajustes coletivos, a importância fundamental do perdão.

Quando é preciso partir é um texto envolvente, com uma história bem conduzida. Ao fim do volume, há uma chave para a identificação dos personagens participantes do enredo atual e suas outras personalidades do passado. Explicam-se, então, quais foram os fatos geradores de tantas dificuldades e do assédio implacável do espírito Bóris. Grandes ódios, como grandes amores, não se constróem em uma reencarnação somente. Interessantes revelações são expostas e podemos entender, enfim, o porquê das características de alguns dos personagens no presente.

Trecho para degustação:

“- Deus é pai de infinita misericórdia e não criou a dor; somos nós que, ignorantes de suas sábias leis, as transgredimos, e por isso passmos por ajustamentos. Existirá dor maior que ficar na orfandade ainda tão novinhos? Crescer sem o amor de pais ou parentes? Talvez a sua necessidade na atual encarnação seja amparar um pequeno que não tenha nascido de suas entranhas e, assim, descobrir que a capacidade de amar pode ultrapassar os limites do sangue. A compreensão da reencarnação acaba com o preconceito de achar que só são nossos filhos os que nascem de nós. Quem é que sabe se uma dessas crianças não é alguém  muito querido do seu coração, que deve hcegar a você através da adoção? Os filhos que nascem de nós vêm espontaneamente, ao passo que adotar é um grande ato de amor. Pense nisso, Vânia. Pense, e deixe o amor que você tem no coração fluir em benefício de um desses pequeninos.” (página 288)

É interessante ressaltar a força de vontade das personagens femininas: primeiro, Anna, mãe de Nicolai; depois, Beatriz. São verdadeiras batalhadoras, sempre zelando pelo bem-estar da família. Embora às vezes fraquejem, tiram forças de onde não se supõe possível. E aqui vai outra lição tirada da leitura desta ótima obra: persistir sempre, lutar sempre; torna-se necessário manter bem sintonizada a casa mental, para que haja possibilidade de ajuda. Afinal, mesmo nossos mentores não fazem milagres ou nos violentam o livre-arbítrio.

GERMANO, Berenice. Quando é preciso partir. Vivaluz editora. Atibaia, SP: 2011.

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