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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Resenha: Ignácio de Antioquia, de Geraldo Lemos Neto/Theophorus


Resultado de imagem para livro Ignácio de AntioquiaLivro: Ignácio de Antioquia – Episódios Históricos do Cristianismo Primitivo
Editora: Vinha de Luz Serviço Editorial
Ano de Publicação: 2009
Edição: 2ª, revista e ampliada
Psicografia: Geraldo Lemos Neto
Espírito: Theophorus
Gênero: Romance histórico psicografado (espírita)
Páginas: 554
ISBN: 9788599065129

Geraldo Lemos Neto nasceu em 1962, em Belo Horizonte, no seio de uma família espírita. Muito jovem já em contato com a doutrina espírita, ingressou neste movimento por influência dos parentes do lado materno, a família Machado, de Pedro Leopoldo e contemporânea do maior médium brasileiro, Francisco Cândido Xavier – o Chico Xavier.

Intensa atividade tem caracterizado Geraldinho, como Lemos é conhecido de seus pares. Foi amigo pessoal do Chico. Participou da mocidade espírita O Precursor e da Cantina Francisco de Assis, ambas vinculadas à União Espírita Mineira. Fundou o departamento editorial da referida instituição; em 2004, fundou também a editora Vinha de Luz, especializada na publicação de obras póstumas de Xavier. Em parceria com a Dra. Marlene Nobre, publicou o opúsculo “Não Será em 2012”, sobre previsões de Chico sobre a chamada transição planetária e o papel do Brasil no cenário mundial.

Ignácio de Antioquia – Episódios Históricos do Cristianismo Primitivo é um romance histórico com a psicografia de Geraldo Lemos Neto e autoria espiritual de Theophorus. Conta com uma rica reconstrução histórica:

“Acompanhamos o grande movimento de semeadura da Boa Nova do Cristo nos corações dos povos gentios, iniciado por José Barnabé de Cyprus e Paulo de Tarsus da Cilícia, e, mais tarde, desdobrado pelo próprio João e seus diversos seguidores: Johannes, Erasto, Ignácio, Heleno, Jacob, Policarpo e outros tantos.Relembramos as paisagens queridas de Antioquia da Syria, às margens do Orontes, e o devotamento de vários trabalhadores da Vinha do Senhor como Manahen, Tito, Trófimo, Tíquico, Barsabás, João de Cleofas e mais alguns...” (página 16, À guisa de prefácio, por Theophorus)

A estrutura do livro se faz em quatro partes. Na primeira, temos “Semeadura – Infância/Juventude”; na segunda, “Crescimento – Maturidade”; na terceira, “Frutificação – Madureza/Imortalidade”. À quarta parte se reservam um posfácio, notas explicativas, referências bibliográficas, bibliografia indicada, anexo I/Mensagem do Bispo d’Argel.

Impressiona o cuidadoso trabalho de edição, de revisão – tanto ortográfica quanto doutrinária – e de reconstituição do ambiente e dos personagens.

Após a desencarnação de Jesus, o trabalho minucioso, corajoso e incansável dos apóstolos na disseminação da Sua mensagem são ressaltados neste trabalho, com verdadeira perícia. Aliás, creio aqui ser oportuno fazer a diferença entre os termos discípulos e apóstolos. Discípulo quer dizer aprendiz, aquele que aprende com o seu mestre; então, enquanto acompanhavam o Cristo, ouvindo-lhe a mensagem a aprendendo sobre a doutrina cristã, aqueles doze homens eram chamados de discípulos. Entretanto, após a morte de Jesus, quando põem em ação todo o treinamento obtido, tornam-se apóstolos, isto é, aquele que foi designado, que foi escolhido para a divulgação dos ensinamentos.

Trabalho sempre difícil, cansativo, desgastante, não só pelas viagens constantes sob péssimas condições (os caminhos eram precários, feitos para homens a pé ou, no máximo, montados em burros), mas também pelo enfrentamento da descrença, indiferença ou até mesmo agressão dos que não comungavam dos mesmos ideais.

Pouco a pouco, do meio daquele caldo de cultura, vai surgindo a figura valorosa de Ignácio de Antioquia, homem simples, de bom coração e extremamente fiel ao Cristo. O próprio mestre o encontra ainda criança, certa feita, e o trata carinhosamente. O pequeno Ignácio jamais esquecerá esse encontro.

Em certo dia de verão intenso na cidade de Cafarnaum se inicia nossa história:

“O sol quente se refletia sobre as águas verdes-azuis do lago de Genesareth, denotando a presença do verão escaldante da Galilea.Cafarnaum era movimentado entreposto de comércio, às margens ao norte do lago também conhecido como o Mar da Galilea ou o Mar de Tiberíades.
A cidade regurgitava no atropelo das gentes de todas as procedências, cada qual demandando seguir seus objetivos imediatos, sem preocupar-se com os circundantes.
No meio da multidão, como a vaguear sem rumo certo, desventurada mulher tropeçou numa das inúmeras tendas de comércio instaladas na praça central, à beira do lago.
Malaquias, o comerciante, contrafeito ao ver suas mercadorias espalhadas desordenadamente pelo solo empoeirado, exclamou, colérico:
‘- Safa-te daqui, infeliz! Que fizeste, oh, desvalidada mulher? - Perdoai-me, senhor! – exclamou a pobre Sara. – Compadecei-vos de minha desventura!” (página 23)

O rompante de Malaquias rapidamente se ameniza, ao ver as condições de Sara. Ela era a mãe do pequeno Ignácio. Resumo, o comerciante não só cuida dela, mas a emprega como ajudantes nos trabalhos de casa, sob insistência de sua mulher. Sara, entretanto, não sobrevive muitos anos, embora os que lhe reste sejam de tranquilidade. Ignácio se torna órfão, mas é cuidado pela família de Malaquias.

Enquanto ele cresce, em contato com a mensagem do Cristo, ele pouco a pouco vai assimilando o sentido amplo daquelas palavras de amor, que falam constantemente de um reino que não é daquele mundo. É exatamente Ignácio de Antioquia – a quem o cristianismo tanto deve e quem esqueceu – a figura central dessa obra.

A luta constante para vencer suas próprias deficiências, a dedicação ao trabalho divulgador da Boa Nova e o resgate deste homem exemplar são motivos mais que suficientes para o espírito Theophorus expurgá-lo do esquecimento. Não obstante, a missão abraçada por Ignácio aguarda episódios trágicos na Terra, enquanto cada vez mais seu espírito se fortalece e para ele e seus seguidores são destinadas glórias espirituais.

Estamos falando, portanto, de um autêntico romance espírita: uma obra romanceada, com uma clara mensagem moral de amor ao próximo e fidelidade aos mais elevados valores espirituais. Embora, de acordo com Theophorus, a obra não tenha por objetivo fazer literatura, com belos fraseados, a verdade é que temos aí um texto de inegável valor literário, história bem escrita, bem conduzida, com informações dispostas didaticamente, a fim de levar o leitor a acompanhar a formação de um personagem. Enquadra-se, por essa marcada característica, nos romances de formação. Enfim, é uma obra muito além do simples divertimento.

Aqui temos as ações dos doze apóstolos; pouco a pouco, vão desencarnando, dando suas missões como terminadas no solo terreno. Ignácio de Antioquia é um legítimo continuador do apostolado, exatamente no período em que as forças contrárias à divulgação dos ensinamentos do cristianismo primitivo tentarão extirpá-las.

E – uma última questão – qual seria a importância desta obra para o espiritismo? Ora, a doutrina dos espíritos, codificada por Allan Kardec no século XIX é toda calcada naquele cristianismo primitivo. A mensagem pura do Mestre Jesus será objeto dos trabalhos incansáveis do professor lionês, agora dotada de explicações lógicas, onde se evidenciam, além do “amar ao próximo como eu vos amei”, a lógica imbatível da lei de ação e reação, da reencarnação como ferramenta de depuração do espírito, da lei de evolução que nos levará a todos à casa do pai, já que “nenhuma ovelha se perderá do redil”.

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