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domingo, 30 de novembro de 2014

Alef Ou A Preparação Para A Vinda de Jesus

 

Elizabeth Pereira, médium que psicografou a presente obra, nasceu em 8 de junho de 1969, em Oliveira, Minas Gerais. Reside na mesma cidade até hoje. Aproximadamente aos 20 anos, encontrou um exemplar de O Evangelho Segundo O Espiritismo, de Allan Kardec. Iniciava-se ali seu contato com o espiritismo. Ingressou no Grupo Espírita Jesus de Nazaré, no qual ainda atua.

O espírito identificado como Sophie é dedicado ao estudo da história da humanidade. Segundo nos informa a orelha do livro Alef, “trabalhou na codificação espírita e na abolição da escravaura no Brasil. Atualmente, dedica-se à divulgação do Espiritismo.”

A dupla afinada deu à luz outras obras: Horizonte Vermelho, ambientado na Irlanda do século 12; como pano de fundo, a batalha que levou os cruzados à tomada de Jerusalém das mãos dos muçulmanos. Sob A Égide da Cruz aborda uma história de amor que perpassou os séculos, com ambientação no Brasil do século 19. O Segundo Grande Elo aborda os episódios ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial; é composto de 14 histórias sobre homens e mulheres e suas vidas entrelaçadas.

Alef é uma narrativa que se espraia, competentemente, por 437 páginas, com ação ambientada no Egito Antigo. Excelente ritmo narrativo, dividido em 44 capítulos, com revelações importantes e hamoniosamente distribuídas ao longo do livro. E serão revelações não só com respeito aos vários personagens envolvidos, mas igualmente com referência a certos conhecimentos de cunho espírita.

Pelas páginas do livro desfila Haemon, um sábio grego tornado conselheiro do faraó Hakor (também conhecido pelo nome helênico de Acoris), da XXIX dinastia, de 393 a 380 a. C. Juntam-se ao sábio: Kyia, a grega Dimitrula, o sacerdote Sobeknefru; Nefertari, de complexa personalidade, irmã de Nitikerty; Proteu de Mileto, um mercenário grego com seus soldados, a soldo do faraó; a doce e evoluída Amonet; Lamech e Eber, ambos da fraternidade dos Essênios; Kenefer, bondoso e desprendido, esposo de Afra e de Kya (mais tarde, ele concede o divórcio a esta, pois Kyia se apaixonara profundamente por Proteu de Mileto).

O ponto central da trama – considerado de um ângulo mais superficial – é a busca do Alef, um documento que não deve cair em mãos escusas e por isso mesmo recebe toda a proteção possível. Reza a lenda, aquele que o ler morrerá inapelavelmente. Em termos mais profundos, a obra trata das preparações necessárias à vinda da Grande Estrela (Jesus), fato que ocorrerá uns quatrocentos anos mais tarde do momento histórico abordado pela obra.

Abordando algumas encarnações dessa galeria de personagens, sempre acessorados por uma equipe de espíritos trabalhadores no planejamento da reencarnação do Logos Planetário, a obra nos mostra, de modo cabal, a oportunidade de evolução concedida àqueles espíritos que resolvem aproveitá-las. Uns se perdem nos desvãos de suas vidas pequenas; outros se encontram a cada passo.

É assim que Haemon, Eber, Amonet e Kenefer tiram o melhor proveito possível de suas experiências reencarnatórias; todos terão papel de importância nas preparações para o grande evento do cristianismo – mas o destaque mesmo será Haemon. Kyia é um espírito ainda permeável às más sugestões de seu próprio ego e de espíritos não comprometidos com o bem.

Algumas passagens podem ser transcritas para a degustação do leitor, sem entregar spoilers:

“O que eles ainda não sabiam era que não se tratava de voltar ao tempo de Chefrem e sim de voltar para dentro de si mesmos em busca de suas próprias memórias do tempo em que tinham vivido no reinado de Chefrem; de lembranças arquivadas na memória do espírito imortal, no eu maior, no inacessível à memória física pelo simples fato de o físico não as possuir. O corpo fora criado para aquela reencarnação e continha informações sobre ela, ao passo que o ser imortal que ali habitava fora criado muitos milênios antes, e guardava informações que nem caberiam nele.” (página 239)

“- Com certeza um dia terão de se separar a fim de que canalizem esse amor para a caridade pura. Se assim não for ficarão estacionados, amando-se mutuamente, sem crescer no amor universal que é o plano maior.” (página 247)

“- Acredito que o plano maior era despertar em vocês um bom sentimento, e o melhor jeito de fazê-lo é justamente este: um nascer como homem e o outro como mulher. E para acelerar o processo, o ato de cuidar e ser cuidado desperta em um a compaixão e no outro a gratidão, duas emoções maravilhosas que, com a mistura dos sexos opostos, resultam no sentimento primitivo que evoluirá com certeza para o amor universal.” (páginas 254)

Portanto, temos aí uma trama envolvente, com ingredientes da paixão entre seres, superação de obstáculos difíceis, reforma íntima, busca persistente da solução de um segredo, revelações sobre o projeto para a vinda do Cristo à Terra, influência de espíritos degredados de Capela (tema tão caro ao espiritismo), a constante assistência espiritual em nossas vidas, a sempre nefasta obsessão de espíritos trevosos. E tudo isso embalado pelo talento na condução do sequenciamento de ações e construção dos personagens, além do uso adequado da escolha pelo português formal.

Alef é uma obra para leitura e releitura. É livro para se ter em uma biblioteca particular. Como toda boa literatura espírita, fornece-nos conhecimentos, reflexões para o nosso próprio engrandecimento e melhor compreensão das leis divinas e da essência dessa fantástica doutrina chamada Espiritismo.

PEREIRA, Elizabeth, espírito Sophie. Alef. Vivaluz Editora, 1ª Edição. Atibaia, SP: 2014.

domingo, 16 de novembro de 2014

França–Um Romance no Tempo dos Cátaros, de Mônica Dabus

Este é o segundo trabalho psicográfico de Mônica Bueno de Araújo Dabus e o Grécia – um romance no tempo dos deuses foi o primeiro.

A autora nasceu em 15/04/1964. Tem formação em Desenho Industrial pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo; casada com André Dabus, tem três filhos.

A partir de 2003, depois de concluir um curso de espiritismo e mediunidade, passou a atuar como médium, principalmente no campo da psicografia dos trabalhos ditados pelo espírito Liz, autor espiritual dos seus dois romances.

O catarismo foi um movimento cristão de ascetismo extremo na Europa Ocidental, ocorrido entre os anos de 1.100-1.200, na região hoje conhecida como Languedoc, França. Especialmente forte na então Occitania, com manifestações localizadas na cidade de Albi – motivo pelo qual os Cátaros também serem chamados de albigenses. Constituiu-se num movimento de oposição às orientações emanadas da Igreja Católica Romana que, por esse motivo, acabou por deflagrar uma guerra santa contra eles, conhecida como Cruzada.

Basicamente, os cátaros acreditavam na preponderância do espírito sobre a matéria, mas caracterizando o reino espiritual como criação do Deus bom, de um lado; de outro, a matéria, corruptora daquele, como obra do Deus mau. Defendiam a ideia da reencarnação e rejeitavam os que se casavam pela segunda vez, bem como recusavam a possibilidade de penitência (o perdão após o batismo). Possuíam um exigente conjunto de obrigações que os levavam à perfeição e como único sacramento aceito, tinham o consolamentum, que poderia ser tomado apenas uma vez na vida. O uso comum era que os albigenses o recebessem em seus leitos de morte, como uma espécie de extrema unção. A crença na comunicação com os espíritos dos mortos era corrente entre esses praticantes.

França – Um Romance no Tempo dos Cátaros é, portanto, uma história que vai se localizar no século XVII, num ambiente em que a descaracterização do evangelho promovida pelo poder eclesiástico era patente. A Igreja Católica, com base romana, era o poder central, religioso e político a um só tempo. O papa era o representante direto de Deus na terra e não se admitia qualquer desobediência.

Nesse ambiente movem-se os personagens do romance. Claire é uma jovem de beleza incomum e acaba por atrair Raoul, um nobre impulsivo. Entretanto, a família dele tinha outros planos e leva-o a contrair núpcias com outra jovem. Mais tarde, já casada com Júlio, volta a sofrer com as investidas persistentes de Raoul. Numa oportunidade, é estuprada por ele e dessa relação Claire engravida. A gestação vem a termo; envergonhada e poupando o marido dos dissabores, não revela a ele a verdade. A mãe desencarna nos braços de Annie, implorando-lhe que cuide da pequena Catherine.

Annie conhece Pierre quando ela cantava com as crianças numa modesta vivenda  cedida ao grupo. Já houvera sido avisada de que um espírito muito caro ao seu, conhecido de outras vidas na terra, estaria ao seu lado. Seu mentor propusera-lhe seguir seu coração e obedecer aos desígnios maiores.

O enredo prossegue, caracterizando o movimento cátaro como uma espécie de predecessor do espiritismo; de fato, há vários pontos de contato. Não obstante, o “atrevimento” albigense trará a ira de muitos sobre ele. Nuvens escuras se movimentam no céu. Tudo se precipita com o assassinato de Pierre de Castelnau, delegado do Papa Inocêncio III, quando voltava para Roma. O Papa, então, lança a Cruzada contra os albigenses.

Catherine em tudo é diferente do pai Júlio, da tia Annie e do marido desta, Pierre. Não tem qualquer afinidade com as ideias e ideais cátaros; não aceita a mediunidade da tia. Seus atos, dentro do livre arbítrio, entretanto, lhe trarão sérias consequências. Mais uma vez, velhas dívidas do passado desencadearão situções no presente. E os seres, nelas envolvidos, tendo a chance de resgatarem-nas, perdem ainda dessa vez a preciosa oportunidade ofertada a eles.

Perseguições, guerras, lutas fratricidas, intolerâncias, exercício equivocado de poder, vinganças e – sobretudo – interesses político-religiosos fazem parte da erradicação do movimento cátaro. Mas as ideias não morrem, os ideais persistem e mais tarde, muito das práticas e dos conhecimentos daqueles rebeldes revive em outro ambiente cultural, igualmente na França, sob a denominação do espiritismo.

Percebe-se, claramente, por meio desta interessante obra espírita, o conceito de que há tempos a Espiritualidade Maior trabalha para implantar de vez o primado do espírito e a recuperação moral da humanidade. São motivos bastantes para a recomendação dessa leitura.

A História é imprescindível para aprendermos a evitar erros do passado e construirmos um presente mais saudável. Afinal, nossas escolhas são livres, mas não as consequências.

DABUS, Mônica Bueno de Araújo. França – Um Romance no Tempo dos Cátaros. Bauru, SP: CEAC Editora, 2014.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A Sombra de Uma Paixão

A dupla Tanya de Oliveira e Eugene vem produzindo bons romances. Nessa autoria se incluem O Despertar das Ilusões, Corações Feridos, Além da Cidade dos Ventos e Ante O Silêncio das Esfinges. Neste blog está resenhado também o Além da Cidade dos Ventos.

Tanya de Oliveira nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É bibliotecária por profissão e amor. Segundo ela, sempre viveu em meio aos livros. Nascida em lar espírita, a partir de 14 anos de idade começou a participar de diversos trabalhos administrativos no Centro Espírita. Já como médium, participou de trabalhos de desobsessão e passe. Por intermédio da clarividência e de sonhos constantes, ela se via seguidamente cercada de livros em grande quantidade. Em um desses sonhos, apareceu-lhe um livro em branco, como que à espera de que Tanya nele escrevesse. Sob a responsabilidade e orientação do espírito Eugene, passou a psicografar romances, com o seguinte plano literário: levar os ensinamentos  de Jesus  e a mensagem de consolo a todos os leitores.

Em A Sombra de Uma Paixão tudo começa por uma ligação pelo celular para Theo, que estava viajando e tinha esquecido o aparelho em casa.Quem o atende é Vivian, mulher de Theo. “Preciso falar com você! Não posso esperar mais… Tenho de vê-lo ainda hoje, senão…”. A ameaça, da qual ela não conseguiu obter mais detalhes, fora feita por uma voz de mulher; o ciúme de Vivan é o gatilho para todo o enredo acontecer.

Eis um trecho, colocado nas páginas 16/17:

“O sono lhe trouxe pesadelos em que ela  ouvia sonoras risadas de escárnio de alguém que lhe seguia de modo insistente; em função da medicação que tomara ao deitar, não conseguia acordar plenamente, voltando de novo a dormir e se encontrando uma vez mais diante do indesejado visitante.

Vivian, em verdade, via-se às voltas com um espírito desencarnado, conhecido seu de outras existências, que aproveitando a sua invigilância havia se aproximado. Isso é muito comum, pois, quando estamos dormindo, espiritualmente gozamos de relativa liberdade em relação ao corpo e é bem fácil nos encontrarmos com espíritos que estejam ou na mesma condição de sono do corpo ou já desencarnados.”

Apesar de ainda estar chovendo muito, sob o efeito do remédio para dormir e espicaçada pelo sentimento de ciúme, Vivian resolve buscar o marido no aeroporto e, não conseguindo o controle do automóvel, sofre um acidente grave. Entra em coma.

A narrativa executa um salto no tempo e vamos conhecer uma das encarnações desses e outros espíritos envolvidos em mais um drama de resgate múltiplo. Há uma relação de ódio que deverá ser transformada, para a harmonia tanto do algoz quanto da vítima. A rigor, a doutrina espírita nos explica não haver, propriamente, esse tipo de relação na qual, num extremo, constumamos classificar alguém como “algoz” e noutro extremo, como “vítima”.

Pela lei de atração entre inimigos na mesma faixa vibratória, há a aproximação das entidades em desalinho e lhes é oferecida a oportunidade de superação dos problemas. O Amor (com “a” maiúsculo) é Lei Divina e Universal e – mais cedo ou mais tarde – todos chegaremos a ele. Temos de resgatar nossas faltas para com os outros – expressão do amor ao próximo. E repetiremos tantas reencarnações quantas nos sejam necessárias.

Assim, Vivian, que numa de suas encarnações havia sido Leonor, ali mesmo em plagas gaúchas, filha do fazendeiro José Venâncio, sofre por se acreditar apaixonada pelo primo Leonardo. O fazendeiro havia se casado com Maria Alice, uma portuguesa que enverga o ideario da madrasta, enciumada pela estreita relação entre pai e filha, acreditando firmemente estar a enteada “roubando” as atenções do homem com quem tinha se casado.

É o tempo de escravidão no Rio Grande do Sul, mais especificamente na época do início das hostilidades entre gaúchos separatistas, desejosos de um Estado não submetido ao poder central e daqueles outros, respresentantes das forças de manutenção. Bento Gonçalves alinhava-se entre os revoltosos, pugnantes por um estado independente.

Nesse contexto, José Venâncio, Maria Alice e Leonor vivem. A menina herdara as ideias antiescravagistas da mãe e influencia, de fato, o pai no sentido de dar, pelo menos, um tratamento mais humano aos escravos da fazenda. Entretanto, as forças promotoras dos resgates cármicos aproximam dois espíritos. Leonor e o escravo Rufino vêm-se, outra vez, em uma relação complicada, na qual deveria prevalecer o perdão.

Muitos dissabores advirão daí. A história é muito bem conduzida e como acontece frequentemente, o passado explica várias situações do presente. Não vou estragar o enredo com um spoiler; portanto, leitor, o melhor que você tem a fazer, se gostou dessa resenha, é ler o livro. A experiência de leitura é sempre muito individual, muito particular, e pode até acontecer de você não gostar do original. Não obstante, o texto é bem escrito, o enredo conduzido com mãos competentes; por isso, arrisco uma certeza: os leitores irão se envolver com o drama de Leonor e Rufino.

E serão conduzidos ao presente, no qual os seres envolvidos numa trama de amor e ódio retornam, na tentativa de superarem antigas questões, tendo outras oportunidades de sublimação.

Tanya Oliveira (psicógrafa) e Eugene (espírito). A Sombra de Uma Paixão. Lúmen Editorial, 5ª edição. São Paulo, SP: 2012

sexta-feira, 13 de junho de 2014

As Marcas do Cristo vol. 2 – Lutero, O Reformador

Neste segundo volume, Hermínio C. Miranda fala sobre Martinho Lutero, o grande reformador protestante. Ele se ergue no seio da própria Igreja, como voz dissonante contra toda aquela acachapante realidade da prática papista. E, me pergunto se, quando ele atravessa a praça, na cidade alemã de Weinsberg e publica suas 95 teses na porta da Capela de Belém, ele teria alguma antevisão da importância do que fazia.

Lutero desejava uma igreja que retornasse à toda a pureza do cristianismo dos primeiros tempos. A Igreja Católica de então perdia-se em seus desmandos desarrazoados, na venda de indulgências, semelhando-se a um comércio sórdido. Afastava-se da proposta do Cristo de pés descalços e se afastava dos pobres. Tudo era cobrado; a população sem a menor condição digna de vida era expoliada do pouco que tinha, tendo de pagar impostos pesados aos nobres e, naquele tempo, ainda à igreja.

Homem intransigente em sua fé, Martinho arrostava a todos e a tudo, insurgindo-se contra “o bando de papistas”. Fortemente influenciado pela teologia de dois grandes vultos predecessores, John Wycliffe, da Inglaterra e Jan Huss, da Boêmia (mais tarde, República Checa), pregava a “justificativa pela fé”. O homem podia salvar-se pela fé absoluta em Deus, mesmo não compreendendo Seus desígnios e a despeito de autoridades corruptas e até mesmo dos pecados cometidos.

Em inferno astral, de acordo com Hermínio, Lutero tinha de enfrentar forças contrárias e difamantes dos dois mundos: de um lado, da Igreja que o via como um agitador e ursupador do seu status quo; de outro, das forças das trevas que desejavam paralizar suas propostas reformadoras. A mensagem pura do Cristo não interessava a essas duas vertentes.

Hermínio atém-se ao método da pesquisa aplicada, levantando fatos e semelhanças, buscando consolidar sua tese, qual seja, a de que Paulo e Martinho Lutero são dois momentos de um mesmo espírito, no cumprimento das missões abraçadas. Realmente, uma série de identificações vão acontecendo durante a exposição, umas tantas sincronias vão nos fazendo pensar.

E nos permitem algumas conclusões. Existe nitidamente um planejamento espiritual a longo prazo, com espaço para consolidação das ideias ainda novas, o acréscimo de novas verdades, sempre dosadas de acordo com nossas possibilidades intelectivas. Para tal, novos movimentos ou novas revelações, novos servidores do Cristo, num perfeito esforço para a nossa reintegração à casa do pai.

Nossas características já adquiridas na caminhada evolutiva às vezes são necessárias para determinadas tarefas ou missões. Lutero não poderia, de modo algum, ser um espírito doce, não temperado nas diversas contendas em que se meteu. Sua fé determinada foi fundamental para a proposta de reforma. Melanchton, seu discípulo, todo ação mediadora, não lhe poderia ocupar o lugar. Para tarefa de soldado, por vezes necessária, deve ser escalado um soldado. Vemos situações como essa no livro Nosso Lar, ditado por André Luiz e psicografado por Chico Xavier. Lá, igualmente, há sentinelas que tomam conta das entradas da colônia espiritual, não deixando entrar quem não tenha permissão para tal.

Há algumas reservas sobre o trabalho de Hermínio, pois alguns entendem que, do jeito que está colocada a questão, ocorre um retrocesso na evolução do espírito de Paulo em relação a Lutero. Paulo seria mais evoluído que este, o que caracterizaria retrogradação – e um espírito não retrogarada, de acordo com os ensinamentos espíritas.

Entretanto, não precisamos ir muito longe para raciocinar. Em Nosso Lar, há o caso da reencarnação de Segismundo. É-nos mostrado nitidamente um caso de redução e não só de forma, mas também de consciência: Segismundo tem de se reduzir para reencarnar. E não é exceção: espíritos de alguma evolução o fazem também. E não é demais lembrar, o próprio Jesus Cristo, tido como governador da Terra, já livre dos ciclos encarnatórios neste planeta de provas e expiações, em missão de amor extremo, reduziu-se também à condição humana.

Certamente, o espírito não retrograda como o quer a doutrina da metempsicose. Depois que atinge certo ponto de sua evolução, não é mais possível o espírito adentrar uma categoria inferior, por exemplo, um espírito reencarnar num corpo de animal inferior. Certos processos de indução hipnótica ou de monoideísmo podem levar o espírito a uma aparente retrogradação, na forma de ovóide, mas isso dura enquanto durar o processo de alienação. Reintegrado à sua condição natural, o ser volta ao ponto evolutivo que lhe é próprio.

Da leitura dessa obra em dois volumes, As Marcas do Cristo, ficaram-me o conhecimento importante sobre John Wycliffe, Jan Huss, a personalidade de Paulo e Lutero. Além disso, uma admiração muito grande pelo trabalho magnífico do excelente Hermínio C. Miranda.

MIRANDA, Hermínio C. As Marcas do Cristo. Editora FEB. Rio de Janeiro, RJ: 6ª edição, 2010.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

As Marcas do Cristo, vol. 1–Paulo, O Apóstolo dos Gentios

Hermínio Correia de Miranda nasceu em 05 de janeiro de 1920, na cidade carioca de Volta Redonda. Formando em Ciências Contábeis, trabalhou na Companhia Siderúrgica Nacional até se aposentar.

Célebre pesquisador e escritor espírita, produziu obras de peso, como Nossos Filhos São Espíritos, Memória Cósmica, Guerrilheiros da Intolerância, O Evangelho Gnóstico de Tomé, A História de Omm Sety – A Noviça e O Faraó, Arquivos Psíquicos do Egito etc. Foram, ao todo, mais de trinta obras, algumas publicadas pela FEB – Federação Espírita Brasileira, como por exemplo, o Diálogo com As Sombras, seu livro de estreia. Desencarnou em 08 de julho de 2013, após uma vida muito produtiva no campo da divulgação do conhecimento espírita, pois escrevia para os seguidores de Allan Kardec e para o público leigo e interessado em seus temas.

Como sempre, para a produção deste As Marcas do Cristo, o autor procedeu a intensa pesquisa, evidenciada no corpo do texto. Aborda a figura de Paulo de Tarso, aquele mesmo perseguidor de cristãos e que teve sua conversão ao Cristianismo à beira da estrada de Damasco. Viu Cristo, que o admoestou: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”

A partir daí, a mesma sinceridade e o mesmo denodo aplicados no combate aos transgressores das Leis Judaicas (os cristãos) serão igualmente aplicados na divulgação das palavras de Jesus. O Cristianismo deve muito ao trabalho deste homem; não fora Paulo (rebatizado assim para marcar sua definitiva nova vida de entrega incondicional à divulgação da ideologia crística), provavelmente, o movimento, ainda inseguro em seu nascedouro teria outro destino, não passando de um movimento localizado e logo esquecido.

Importantíssimo trabalho irá realizar este personagem. Incansável em suas viagens para a fundação das Igrejas, para o apoio aos núcleos iniciantes, para orientar os apóstolos, Paulo pôs a serviço do trabalho toda a sua cultura superior, pois era um doutor das leis. E é graças às suas famosas epístolas – cartas de orientação aos cristãos de várias igrejas – que podemos rastrear informações imprescindíveis sobre a época, o que teria sido o movimento do cristianismo após a morte do seu idealizador na cruz.

Mas o que Hermínio intenta – e o faz com competência – não é traçar simplesmente a biografia de Paulo. Ele até o faz, procurando centrar o foco nas características e nas ideias do biografado, mas sua análise é de outra ordem. No volume dois, intitulado As Marcas do Cristo vol. 2 – Lutero, O Reformador, Miranda procura também aplicar o mesmo método, pois deseja defender sua tese: Paulo e Lutero são reencarnações, em épocas diferentes,  de um mesmo espírito.

Partindo da ideia basilar de que se um mesmo espírito reencarnante deverá apresentar se não os mesmíssimos traços – admitindo-se que a evolução espiritual exercerá mudanças de atitudes e de personalidade ao longo do tempo – pelo menos tendências parecidas, os mesmos impulsionamentos, atitudes semelhantes, uma espécie de fio condutor, por tratar-se da mesma personalidade que preside à matéria. Corpos diferentes, sim, mas um mesmo espírito que a mova.

Não é um romance, nem mesmo um relato romanciado, embora escrito de forma amena. É um trabalho de pesquisa, de estudo, tendo como ponto de partida os Atos dos Apóstolos, no qual o evangelista Lucas narra parte da atuação paulina. Várias lacunas de informação são completadas por outro livro famoso no meio espírita, o Paulo e Estêvão, de Chico Xavier e do espírito Emmanuel.

Recomendo a leitura a quem gostar de estudo, espírita ou não. E mesmo a quem não gostar, pois o texto de Hermínio é de agradável leitura. Tive bastante dificuldade de achar o primeiro volume, precisamente o sobre Paulo, uma vez que está esgotado na editora. Torcemos para que a FEB – detentora dos direitos autorais – esteja planejando nova edição para breve. Obras assim devem estar à disposição de quem se interessar por elas.

MIRANDA, Herminio C. As Marcas do Cristo, vol 1 – Paulo, o Apóstolo dos Gentios. 6ª edição. Rio de Janeiro, RJ: editora FEB, 2010.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Além da Cidade dos Ventos

Tanya Oliveira é bibliotecária e natural de Porto Alegre, (RS); é casada, tem três filhos adolescentes. Começou a participar de atividades na Sociedade Espírita Paz e Amor aos 14 anos de idade, também na capital gaúcha. Exerceu o cargo de diretora do Departamento de Evangelização da Sociedade Espírita Bezerra de Menezes, em Bagé.

Segundo Eugene, o autor espiritual, a obra Além da Cidade dos Ventos relata um caso real de reencarnação, abordando os “encontros, reencontros e desencontros” de um grupo de espíritos.

Tanya Oliveira e Eugene são autores de outros trabalhos, como Ante o Silêncio das Esfinges, Longe dos Corações Feridos.

Poderá o amor entre um homem e uma mulher ultrapassar os séculos? A paixão, que deseja se realizar a qualquer custo e que passa sobre outros relacionamentos como um rolo compressor deve sublimar-se? Erros do passado são passíveis de oportunidades de acerto, no presente? A reencarnação é, de fato, uma realidade?

Além da Cidade dos Ventos é um livro que responde a tudo isso. Marianne e Paul vivem uma paixão assim, tórrida e descontrolada. Ela é casada com Philip e tem uma filha, Rebecca. O drama central da história começa exatamente quando Paul e Marianne se conhecem e se reconhecem de outras vidas. Esse triângulo amoroso – recurso usado frequentemente em romances de amor – tem aqui um tratamento diferenciado, à luz da doutrina espírita. Trata-se de espíritos que vão e vêm, em situações de provas e expiações, buscando a harmonia com as leis divinas, lutando cada um por sua própria evolução.

Como somos todos, espíritos imperfeitos, ainda galgando as etapas de nossa evolução, falhamos constantemente. Antes de reencarnarmos, prometemos acertar nossas contas, participamos não raro de nosso próprio planejamento reencarnatório. Entretanto, quando nos aportamos na esfera física, nos deixamos levar, uma vez mais, pelas nossas inconstâncias e indisciplinas.

Por isso, o presente de Marianne e Daniel (Paul) e James (Philip) mais uma vez entrelaça esses espíritos, numa nova oportunidade. Desta vez, conseguirá Marianne não trilhar o mesmo caminho de antes, ferindo pessoas com suas escolhas erradas?

Durante a narrativa, existem entidades mais elevadas que eles, propondo-se ajudá-los. Todos os envolvidos têm algum ganho; afinal, em nossas perambulações por outras vivências conseguimos acertar alguma coisa. A evolução é assim mesmo, dura e lenta para a maioria de nós. Acertamos e erramos. Repassamos as provas, como meio de nos fortalecermos.

Tanya e Eugene são fiéis aos preceitos espíritas, codificados genialmente por Allan Kardec. A Lei de Causa e Efeito (às vezes chamada de “carma”) se evidencia ao trazer para a interrelação no presente os envolvidos em reencarnação pregressa, no caso, ainda em um mesmo lugar.

Como já são possuidores de méritos em outras áreas diferentes da relação amorosa, a Inteligência Divina os coloca num cenário de “déjà-vu”, em que elementos físicos, como a casa, um quadro, um jardim de Azaléias, a cidade de Chicago, nos EUA (a “Cidade dos Ventos”, do título), termina por imbricar passado e presente para que, de posse de uma maior conscientização do que fizeram anteriormente, possam enfim terem chances maiores de cumprir seus respectivos resgates com a Lei. Em nenhum momento, entretanto, é-lhes retirada a Lei do Livre Arbítrio. Como de sempre, a semeadura é nossa, mas a colheita… é obrigatória.

Excelente livro espírita. Li-o em apenas dois dias, vencendo com facilidade as 337 páginas que o compõem. O estilo dos autores é estimulante à leitura, agradável mesmo. O enredo é do tipo não linear, isto é, existe,  a certos intervalos, o deslocamento narrativo ao passado.

Eis um trecho, para degustação do leitor:

“Certo dia, como era bastante usual na região, um caixeiro-viajante, – homem que trazia mercadorias da cidade grande para os armazéns do vilarejo e para algumas fazendas da região – chegou à fazenda Santa Bárbara. Vinha a cavalo, cansado, e pediu licença para descansar umas poucas horas no galpão – local onde ficavam os peões – e dar um pouco d’água para o seu velho animal.

Raquel prontamente tratou de providenciar o necessário para o viajante. Alguma coisa a tinha cativado no olhar e nos modos daquele homem simples e matratado pelas agruras de uma vida difícil. Dir-se-ia que suas maneiras, por alguma razão que desconhecia, pareciam transmitir paz e sabedoria.

Como sua antiga cozinheira se havia ausentado momentaneamente, ela mesma preparou um farto prato de comida para o forasteiro e lhe ofereceu um copo de vinho, para que refizesse as forças.

Bastante comovido, Leônidas agradeceu muito, expressando sua alegria em se encontar em uma casa tão aconchegante e amiga. Observando o semblante de Raquel, afirmou sorrindo:

-- O que a senhora procura está vindo ao seu encontro…

Raquel fitou-o, surpresa, sem entender a quê o homem se referia.

-- Não se assuste, minha filha. Apesar de minha já longa existência nesta Terra, em minha mocidade também buquei um sentido maior para a vida humana… Nunca me satisfizeram as explanações convencionais nem a alusão a uma fé cega e obliterada por dogmas incompreensíveis..” (páginas 63/64)

Leitura altamente recomendável; o leitor espírita acompanhará a Lei Divina em ação e o leitor somente simpatizante da doutrina reencarnatória terá uma bela história de amor, plena de esperanças. Para qualquer dos casos, um texto muito bem escrito, fluente, revelando um narrador experiente na arte de entretecer suspenses e contar uma boa história.

OLIVEIRA, Tanya. Eugene. Além da Cidade dos Ventos. Associação Editora Francisco Valdomiro Lorenz. 6ª edição. Rio de Janeiro, RJ: 2013.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Mais forte do que nunca

Eliana Machado Coelho é paulista, nascida na capital do estado bandeirante, em 09/10. Desde pequena esteve em contato com o Espiritismo, amparada por pais e avós amorosos. Estudou a Doutrina Espírita, tendo realizado muitos treinos de psicografia sob orientação de sua mentora espiritual, Schellida. Há claramente um projeto literário orientador do trabalho das duas: “o que sempre deve prevalecer é o conteúdo moral e os ensinamentos transmitidos em cada livro”.

Por este projeto deve se entender que o gênero textual romance – narrativa montada sobre vários núcleos dramáticos – é apenas um modo mais palatável para apresentar conteúdos. No presente caso, conteúdo espírita. Afinal, não são todos os leitores que desejam se debruçar sobre longos estudos e dissertações sobre a Doutrina. E não há qualquer demérito nessa disposição. As pessoas têm suas próprias definições e expectativas.

Não é o primeiro livro da dupla Eliana/Schellida que leio; nos três trabalhos lidos anteriormente, houve uma motivação muito forte, de minha parte, para a leitura. Sempre as escolho com muito critério: gasto tempo na livraria, leio o índice, a quarta capa, introdução se houver; folheio o livro, pinçando aqui e ali alguns trechos. Existem, nas narrativas da dupla afinada, algumas coisas às quais dou muita importância. Consonância com as bases da Doutrina Espírita (afinal, são livros espíritas, não é mesmo?), propostas à reflexão e ensinamentos.

Mais forte que nunca é um livro causador de polêmica, mesmo no meio espírita. É que ele aborda o delicado tema da homossexualidade à luz de uma análise desapaixonada, oferecendo-nos a compreensão espírita dos fatos. Tenho constatado a condenação da homossexualidade e dos homossexuais às penas do inferno por confrades espiritista, inclusive em palestras. Falta de reflexão, pesquisa, estudo.

Abner é um arquiteto, 35 anos, bem resolvido e que decide assumir sua orientação sexual: ama Davi, seu companheiro. Tal atitude causa, como é comum, reações diversas das pessoas da família de Abner. Rúbia, sua irmã, não aceita sua preferência; Simone, irmã mais velha, já é mais compreensiva; a mãe, Celeste, não compreende sua opção, embora tivesse percebido, desde cedo, haver qualquer coisa diferente com o filho – ela o ama e não o condena. Entretanto, o pai, Sr. Salvador, é intolerante. Não é apenas a homossexualidade que condena, sua revolta é contra o mundo atual, contra as pessoas que agem diferentemente dele: aposentado, deixa estagnar sua mente, é mal resolvido consigo mesmo, de mal com a vida.

E, de repente, o mundo parece-lhe sair fora do lugar: Rúbia relaciona-se com um homem casado, do qual engravida. Simone constata que seu bebê, tão ansiosamente esperado, tem a Síndrome de Patau – um defeito no gene 13, um caso de trissomia.

Por trissomia entende-se uma anomalia durante o processo genético em que os cromossomos deveriam se dividir corretamente. Os seres humanos têm 46 cromossomos, sendo 23 da mãe e 23 do pai, a serem combinados na fecundação e darem origem a um filho dito normal. Na Síndrome de Patau, o gene 13 não sofre essa natural divisão, indo com as duas partes fazer parte do óvulo materno; vai se combinar com outro gene 13, fornecido pelo espermatozóide, daí a trissomia, causadora de vários problemas. Vão desde a malformação do palato (a criança nasce sem o céu da boca), deformações nos olhos e orelhas. Podem nascer mortos ou terem pouco tempo de vida. O marido de Simone, Samuel, não consegue suportar a ideia de um filho assime se afasta da mulher grávida.

A família de Davi também tem seus problemas. Embora Janaína seja espírita e portadora de maiores esclarecimentos, aceitando bem a orientação sexual de seu filho mais novo, Davi, vive um drama com o mais velho, Cristiano: recuperado fisicamente de um acidente de carro, no qual perdera a noiva Vitória, tem ainda sérias repercussões psicológicas.

A  tese central do livro é uma verdadeira paulada no preconceito contra a homossexualidade. Ela é natural como a heterossexualidade. Não é uma opção, não é uma doença, não é sem-vergonhice (como a caracteriza o Sr. Salvador). Faz parte da obra de Deus. E a argumentação de Schellida, pela boca do personagem Cristiano, irmão de Davi, é consistente:

“A intolerância e o preconceito têm origem na ignorância. A verdade é que há um amplo grau de contraste entre a extremidade do masculino e feminino. A variação de gênero existente entre os seres humanos não é aberrante, anormal ou antinatural. Faz parte da Natureza. Nós estamos vivendo entre seres que vão além, muito além da tradicional categoria de macho e fêmea. O senhor sabia que há plantas hermafroditas ou intersexuais? – o homem não respondeu e Cristiano continuou: – Além de inúmeros animais que apresentam comportamento homossexual como girafas, pinguins, baleias, chimpanzé, golfinhos e outros. Milhares de seres a nossa volta são hermafroditas, ou seja, são intersexuais, possuem os dois órgão sexuais masculino e feminino. Crustáceos marinhos,chamados de cracas, que vivem presos em rochedos e em cascos de embarcações, são animais em que 97% são intersexuais.” (página 273)

A algumas páginas mais adiante, o Sr. Salvador questiona se os homossexuais deveriam “sublimar” o sexo, não o praticando. “Isso depende de cada um. Em minha opinião, entendo que a relação sexual é um processo, é o ato que garante a reprodução das espécies. Como estamos falando da espécie humana, devemos entender que o ato sexual é o mecanismo responsável pela variabilidade genética e contínua da espécie e, consequentemente, a sobrevivência da raça humana. Se a relação sexual devesse, obrigatoriamente, ser usada somente para fins reprodutivos, conforme alguns dizem ser essa a vontade de Deus na passagem bíblica: crescei e multiplicai, então os heterossexuais também deveriam se abster do sexo, não praticar o sexo quando não fosse com a finalidade exclusiva de procriar.” (página 279)

O romance procura traçar as possibilidades de realização da sexualidade humana e nos diz que há os heterossexuais, os homossexuais, os bissexuais e até mesmo os assexuados (não gostam de sexo e podem passar a vida toda sem praticá-lo).

Schellida nos lembra, em determinado trecho, que “A Doutrina Espírita, na sua codificação, não é preconceituosa e praticamente não se manifesta a respeito disso. Lembra que espírito não tem sexo e podemos encarnar homem hoje e mulher amanhã. A Doutrina Espírita defende a tese de que quanto maior a evolução de um espírito, mais aproveitamento ele teve nas experiências vividas. Isso indica experiências como homem e mulher, sofrendo conflitos, harmonizando suas práticas em diversas vidas, em incontáveis provas, exercícios, tentativas, ensaios e tudo o que Deus nos colocar à disposição.”

A obra basilar do Espiritismo é O Livro dos Espíritos, obra que se alonga em 1018 perguntas, organizadas por Allan Kardec e respondida pelos espíritos envolvidos na codificação da Doutrina. É bastante oportuno transcrever aqui o que nos diz as questões de número 201/202, livro segundo, capítulo IV:

“201.O Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, numa nova existência, e vice-versa?

- Sim, pois são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres.

202. Quando somos Espíritos, preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher?

- Isso pouco importa ao Espírito; depende das provas que ele tiver de sofrer.”

Logo a seguir, há um elucidativo comentário de Kardec:

“Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhe provas e deveres especiais, e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.”

Se você, querido leitor ou querida leitora, gosta de ler obras espíritas, não perca a oportunidade de ler uma boa trama, escrita de maneira competente, fiel aos princípios espiritistas. Além disso, você leva para casa boas reflexões sobre um tema delicado e atual. Quem sabe, nos tornamos (eu me incluo entre estes) um pouco menos preconceituosos? Boa leitura!

Eliana Machado Coelho, espírito Schellida. Mais Forte Do Que Nunca. 1ª edição. São Paulo, SP: editora Lúmen, 2011.