Tanya Oliveira é bibliotecária e natural de Porto Alegre, (RS); é casada, tem três filhos adolescentes. Começou a participar de atividades na Sociedade Espírita Paz e Amor aos 14 anos de idade, também na capital gaúcha. Exerceu o cargo de diretora do Departamento de Evangelização da Sociedade Espírita Bezerra de Menezes, em Bagé.
Segundo Eugene, o autor espiritual, a obra Além da Cidade dos Ventos relata um caso real de reencarnação, abordando os “encontros, reencontros e desencontros” de um grupo de espíritos.
Tanya Oliveira e Eugene são autores de outros trabalhos, como Ante o Silêncio das Esfinges, Longe dos Corações Feridos.
Poderá o amor entre um homem e uma mulher ultrapassar os séculos? A paixão, que deseja se realizar a qualquer custo e que passa sobre outros relacionamentos como um rolo compressor deve sublimar-se? Erros do passado são passíveis de oportunidades de acerto, no presente? A reencarnação é, de fato, uma realidade?
Além da Cidade dos Ventos é um livro que responde a tudo isso. Marianne e Paul vivem uma paixão assim, tórrida e descontrolada. Ela é casada com Philip e tem uma filha, Rebecca. O drama central da história começa exatamente quando Paul e Marianne se conhecem e se reconhecem de outras vidas. Esse triângulo amoroso – recurso usado frequentemente em romances de amor – tem aqui um tratamento diferenciado, à luz da doutrina espírita. Trata-se de espíritos que vão e vêm, em situações de provas e expiações, buscando a harmonia com as leis divinas, lutando cada um por sua própria evolução.
Como somos todos, espíritos imperfeitos, ainda galgando as etapas de nossa evolução, falhamos constantemente. Antes de reencarnarmos, prometemos acertar nossas contas, participamos não raro de nosso próprio planejamento reencarnatório. Entretanto, quando nos aportamos na esfera física, nos deixamos levar, uma vez mais, pelas nossas inconstâncias e indisciplinas.
Por isso, o presente de Marianne e Daniel (Paul) e James (Philip) mais uma vez entrelaça esses espíritos, numa nova oportunidade. Desta vez, conseguirá Marianne não trilhar o mesmo caminho de antes, ferindo pessoas com suas escolhas erradas?
Durante a narrativa, existem entidades mais elevadas que eles, propondo-se ajudá-los. Todos os envolvidos têm algum ganho; afinal, em nossas perambulações por outras vivências conseguimos acertar alguma coisa. A evolução é assim mesmo, dura e lenta para a maioria de nós. Acertamos e erramos. Repassamos as provas, como meio de nos fortalecermos.
Tanya e Eugene são fiéis aos preceitos espíritas, codificados genialmente por Allan Kardec. A Lei de Causa e Efeito (às vezes chamada de “carma”) se evidencia ao trazer para a interrelação no presente os envolvidos em reencarnação pregressa, no caso, ainda em um mesmo lugar.
Como já são possuidores de méritos em outras áreas diferentes da relação amorosa, a Inteligência Divina os coloca num cenário de “déjà-vu”, em que elementos físicos, como a casa, um quadro, um jardim de Azaléias, a cidade de Chicago, nos EUA (a “Cidade dos Ventos”, do título), termina por imbricar passado e presente para que, de posse de uma maior conscientização do que fizeram anteriormente, possam enfim terem chances maiores de cumprir seus respectivos resgates com a Lei. Em nenhum momento, entretanto, é-lhes retirada a Lei do Livre Arbítrio. Como de sempre, a semeadura é nossa, mas a colheita… é obrigatória.
Excelente livro espírita. Li-o em apenas dois dias, vencendo com facilidade as 337 páginas que o compõem. O estilo dos autores é estimulante à leitura, agradável mesmo. O enredo é do tipo não linear, isto é, existe, a certos intervalos, o deslocamento narrativo ao passado.
Eis um trecho, para degustação do leitor:
“Certo dia, como era bastante usual na região, um caixeiro-viajante, – homem que trazia mercadorias da cidade grande para os armazéns do vilarejo e para algumas fazendas da região – chegou à fazenda Santa Bárbara. Vinha a cavalo, cansado, e pediu licença para descansar umas poucas horas no galpão – local onde ficavam os peões – e dar um pouco d’água para o seu velho animal.
Raquel prontamente tratou de providenciar o necessário para o viajante. Alguma coisa a tinha cativado no olhar e nos modos daquele homem simples e matratado pelas agruras de uma vida difícil. Dir-se-ia que suas maneiras, por alguma razão que desconhecia, pareciam transmitir paz e sabedoria.
Como sua antiga cozinheira se havia ausentado momentaneamente, ela mesma preparou um farto prato de comida para o forasteiro e lhe ofereceu um copo de vinho, para que refizesse as forças.
Bastante comovido, Leônidas agradeceu muito, expressando sua alegria em se encontar em uma casa tão aconchegante e amiga. Observando o semblante de Raquel, afirmou sorrindo:
-- O que a senhora procura está vindo ao seu encontro…
Raquel fitou-o, surpresa, sem entender a quê o homem se referia.
-- Não se assuste, minha filha. Apesar de minha já longa existência nesta Terra, em minha mocidade também buquei um sentido maior para a vida humana… Nunca me satisfizeram as explanações convencionais nem a alusão a uma fé cega e obliterada por dogmas incompreensíveis..” (páginas 63/64)
Leitura altamente recomendável; o leitor espírita acompanhará a Lei Divina em ação e o leitor somente simpatizante da doutrina reencarnatória terá uma bela história de amor, plena de esperanças. Para qualquer dos casos, um texto muito bem escrito, fluente, revelando um narrador experiente na arte de entretecer suspenses e contar uma boa história.
OLIVEIRA, Tanya. Eugene. Além da Cidade dos Ventos. Associação Editora Francisco Valdomiro Lorenz. 6ª edição. Rio de Janeiro, RJ: 2013.