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sexta-feira, 13 de junho de 2014

As Marcas do Cristo vol. 2 – Lutero, O Reformador

Neste segundo volume, Hermínio C. Miranda fala sobre Martinho Lutero, o grande reformador protestante. Ele se ergue no seio da própria Igreja, como voz dissonante contra toda aquela acachapante realidade da prática papista. E, me pergunto se, quando ele atravessa a praça, na cidade alemã de Weinsberg e publica suas 95 teses na porta da Capela de Belém, ele teria alguma antevisão da importância do que fazia.

Lutero desejava uma igreja que retornasse à toda a pureza do cristianismo dos primeiros tempos. A Igreja Católica de então perdia-se em seus desmandos desarrazoados, na venda de indulgências, semelhando-se a um comércio sórdido. Afastava-se da proposta do Cristo de pés descalços e se afastava dos pobres. Tudo era cobrado; a população sem a menor condição digna de vida era expoliada do pouco que tinha, tendo de pagar impostos pesados aos nobres e, naquele tempo, ainda à igreja.

Homem intransigente em sua fé, Martinho arrostava a todos e a tudo, insurgindo-se contra “o bando de papistas”. Fortemente influenciado pela teologia de dois grandes vultos predecessores, John Wycliffe, da Inglaterra e Jan Huss, da Boêmia (mais tarde, República Checa), pregava a “justificativa pela fé”. O homem podia salvar-se pela fé absoluta em Deus, mesmo não compreendendo Seus desígnios e a despeito de autoridades corruptas e até mesmo dos pecados cometidos.

Em inferno astral, de acordo com Hermínio, Lutero tinha de enfrentar forças contrárias e difamantes dos dois mundos: de um lado, da Igreja que o via como um agitador e ursupador do seu status quo; de outro, das forças das trevas que desejavam paralizar suas propostas reformadoras. A mensagem pura do Cristo não interessava a essas duas vertentes.

Hermínio atém-se ao método da pesquisa aplicada, levantando fatos e semelhanças, buscando consolidar sua tese, qual seja, a de que Paulo e Martinho Lutero são dois momentos de um mesmo espírito, no cumprimento das missões abraçadas. Realmente, uma série de identificações vão acontecendo durante a exposição, umas tantas sincronias vão nos fazendo pensar.

E nos permitem algumas conclusões. Existe nitidamente um planejamento espiritual a longo prazo, com espaço para consolidação das ideias ainda novas, o acréscimo de novas verdades, sempre dosadas de acordo com nossas possibilidades intelectivas. Para tal, novos movimentos ou novas revelações, novos servidores do Cristo, num perfeito esforço para a nossa reintegração à casa do pai.

Nossas características já adquiridas na caminhada evolutiva às vezes são necessárias para determinadas tarefas ou missões. Lutero não poderia, de modo algum, ser um espírito doce, não temperado nas diversas contendas em que se meteu. Sua fé determinada foi fundamental para a proposta de reforma. Melanchton, seu discípulo, todo ação mediadora, não lhe poderia ocupar o lugar. Para tarefa de soldado, por vezes necessária, deve ser escalado um soldado. Vemos situações como essa no livro Nosso Lar, ditado por André Luiz e psicografado por Chico Xavier. Lá, igualmente, há sentinelas que tomam conta das entradas da colônia espiritual, não deixando entrar quem não tenha permissão para tal.

Há algumas reservas sobre o trabalho de Hermínio, pois alguns entendem que, do jeito que está colocada a questão, ocorre um retrocesso na evolução do espírito de Paulo em relação a Lutero. Paulo seria mais evoluído que este, o que caracterizaria retrogradação – e um espírito não retrogarada, de acordo com os ensinamentos espíritas.

Entretanto, não precisamos ir muito longe para raciocinar. Em Nosso Lar, há o caso da reencarnação de Segismundo. É-nos mostrado nitidamente um caso de redução e não só de forma, mas também de consciência: Segismundo tem de se reduzir para reencarnar. E não é exceção: espíritos de alguma evolução o fazem também. E não é demais lembrar, o próprio Jesus Cristo, tido como governador da Terra, já livre dos ciclos encarnatórios neste planeta de provas e expiações, em missão de amor extremo, reduziu-se também à condição humana.

Certamente, o espírito não retrograda como o quer a doutrina da metempsicose. Depois que atinge certo ponto de sua evolução, não é mais possível o espírito adentrar uma categoria inferior, por exemplo, um espírito reencarnar num corpo de animal inferior. Certos processos de indução hipnótica ou de monoideísmo podem levar o espírito a uma aparente retrogradação, na forma de ovóide, mas isso dura enquanto durar o processo de alienação. Reintegrado à sua condição natural, o ser volta ao ponto evolutivo que lhe é próprio.

Da leitura dessa obra em dois volumes, As Marcas do Cristo, ficaram-me o conhecimento importante sobre John Wycliffe, Jan Huss, a personalidade de Paulo e Lutero. Além disso, uma admiração muito grande pelo trabalho magnífico do excelente Hermínio C. Miranda.

MIRANDA, Hermínio C. As Marcas do Cristo. Editora FEB. Rio de Janeiro, RJ: 6ª edição, 2010.