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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A Sombra de Uma Paixão

A dupla Tanya de Oliveira e Eugene vem produzindo bons romances. Nessa autoria se incluem O Despertar das Ilusões, Corações Feridos, Além da Cidade dos Ventos e Ante O Silêncio das Esfinges. Neste blog está resenhado também o Além da Cidade dos Ventos.

Tanya de Oliveira nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É bibliotecária por profissão e amor. Segundo ela, sempre viveu em meio aos livros. Nascida em lar espírita, a partir de 14 anos de idade começou a participar de diversos trabalhos administrativos no Centro Espírita. Já como médium, participou de trabalhos de desobsessão e passe. Por intermédio da clarividência e de sonhos constantes, ela se via seguidamente cercada de livros em grande quantidade. Em um desses sonhos, apareceu-lhe um livro em branco, como que à espera de que Tanya nele escrevesse. Sob a responsabilidade e orientação do espírito Eugene, passou a psicografar romances, com o seguinte plano literário: levar os ensinamentos  de Jesus  e a mensagem de consolo a todos os leitores.

Em A Sombra de Uma Paixão tudo começa por uma ligação pelo celular para Theo, que estava viajando e tinha esquecido o aparelho em casa.Quem o atende é Vivian, mulher de Theo. “Preciso falar com você! Não posso esperar mais… Tenho de vê-lo ainda hoje, senão…”. A ameaça, da qual ela não conseguiu obter mais detalhes, fora feita por uma voz de mulher; o ciúme de Vivan é o gatilho para todo o enredo acontecer.

Eis um trecho, colocado nas páginas 16/17:

“O sono lhe trouxe pesadelos em que ela  ouvia sonoras risadas de escárnio de alguém que lhe seguia de modo insistente; em função da medicação que tomara ao deitar, não conseguia acordar plenamente, voltando de novo a dormir e se encontrando uma vez mais diante do indesejado visitante.

Vivian, em verdade, via-se às voltas com um espírito desencarnado, conhecido seu de outras existências, que aproveitando a sua invigilância havia se aproximado. Isso é muito comum, pois, quando estamos dormindo, espiritualmente gozamos de relativa liberdade em relação ao corpo e é bem fácil nos encontrarmos com espíritos que estejam ou na mesma condição de sono do corpo ou já desencarnados.”

Apesar de ainda estar chovendo muito, sob o efeito do remédio para dormir e espicaçada pelo sentimento de ciúme, Vivian resolve buscar o marido no aeroporto e, não conseguindo o controle do automóvel, sofre um acidente grave. Entra em coma.

A narrativa executa um salto no tempo e vamos conhecer uma das encarnações desses e outros espíritos envolvidos em mais um drama de resgate múltiplo. Há uma relação de ódio que deverá ser transformada, para a harmonia tanto do algoz quanto da vítima. A rigor, a doutrina espírita nos explica não haver, propriamente, esse tipo de relação na qual, num extremo, constumamos classificar alguém como “algoz” e noutro extremo, como “vítima”.

Pela lei de atração entre inimigos na mesma faixa vibratória, há a aproximação das entidades em desalinho e lhes é oferecida a oportunidade de superação dos problemas. O Amor (com “a” maiúsculo) é Lei Divina e Universal e – mais cedo ou mais tarde – todos chegaremos a ele. Temos de resgatar nossas faltas para com os outros – expressão do amor ao próximo. E repetiremos tantas reencarnações quantas nos sejam necessárias.

Assim, Vivian, que numa de suas encarnações havia sido Leonor, ali mesmo em plagas gaúchas, filha do fazendeiro José Venâncio, sofre por se acreditar apaixonada pelo primo Leonardo. O fazendeiro havia se casado com Maria Alice, uma portuguesa que enverga o ideario da madrasta, enciumada pela estreita relação entre pai e filha, acreditando firmemente estar a enteada “roubando” as atenções do homem com quem tinha se casado.

É o tempo de escravidão no Rio Grande do Sul, mais especificamente na época do início das hostilidades entre gaúchos separatistas, desejosos de um Estado não submetido ao poder central e daqueles outros, respresentantes das forças de manutenção. Bento Gonçalves alinhava-se entre os revoltosos, pugnantes por um estado independente.

Nesse contexto, José Venâncio, Maria Alice e Leonor vivem. A menina herdara as ideias antiescravagistas da mãe e influencia, de fato, o pai no sentido de dar, pelo menos, um tratamento mais humano aos escravos da fazenda. Entretanto, as forças promotoras dos resgates cármicos aproximam dois espíritos. Leonor e o escravo Rufino vêm-se, outra vez, em uma relação complicada, na qual deveria prevalecer o perdão.

Muitos dissabores advirão daí. A história é muito bem conduzida e como acontece frequentemente, o passado explica várias situações do presente. Não vou estragar o enredo com um spoiler; portanto, leitor, o melhor que você tem a fazer, se gostou dessa resenha, é ler o livro. A experiência de leitura é sempre muito individual, muito particular, e pode até acontecer de você não gostar do original. Não obstante, o texto é bem escrito, o enredo conduzido com mãos competentes; por isso, arrisco uma certeza: os leitores irão se envolver com o drama de Leonor e Rufino.

E serão conduzidos ao presente, no qual os seres envolvidos numa trama de amor e ódio retornam, na tentativa de superarem antigas questões, tendo outras oportunidades de sublimação.

Tanya Oliveira (psicógrafa) e Eugene (espírito). A Sombra de Uma Paixão. Lúmen Editorial, 5ª edição. São Paulo, SP: 2012