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domingo, 30 de novembro de 2014

Alef Ou A Preparação Para A Vinda de Jesus

 

Elizabeth Pereira, médium que psicografou a presente obra, nasceu em 8 de junho de 1969, em Oliveira, Minas Gerais. Reside na mesma cidade até hoje. Aproximadamente aos 20 anos, encontrou um exemplar de O Evangelho Segundo O Espiritismo, de Allan Kardec. Iniciava-se ali seu contato com o espiritismo. Ingressou no Grupo Espírita Jesus de Nazaré, no qual ainda atua.

O espírito identificado como Sophie é dedicado ao estudo da história da humanidade. Segundo nos informa a orelha do livro Alef, “trabalhou na codificação espírita e na abolição da escravaura no Brasil. Atualmente, dedica-se à divulgação do Espiritismo.”

A dupla afinada deu à luz outras obras: Horizonte Vermelho, ambientado na Irlanda do século 12; como pano de fundo, a batalha que levou os cruzados à tomada de Jerusalém das mãos dos muçulmanos. Sob A Égide da Cruz aborda uma história de amor que perpassou os séculos, com ambientação no Brasil do século 19. O Segundo Grande Elo aborda os episódios ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial; é composto de 14 histórias sobre homens e mulheres e suas vidas entrelaçadas.

Alef é uma narrativa que se espraia, competentemente, por 437 páginas, com ação ambientada no Egito Antigo. Excelente ritmo narrativo, dividido em 44 capítulos, com revelações importantes e hamoniosamente distribuídas ao longo do livro. E serão revelações não só com respeito aos vários personagens envolvidos, mas igualmente com referência a certos conhecimentos de cunho espírita.

Pelas páginas do livro desfila Haemon, um sábio grego tornado conselheiro do faraó Hakor (também conhecido pelo nome helênico de Acoris), da XXIX dinastia, de 393 a 380 a. C. Juntam-se ao sábio: Kyia, a grega Dimitrula, o sacerdote Sobeknefru; Nefertari, de complexa personalidade, irmã de Nitikerty; Proteu de Mileto, um mercenário grego com seus soldados, a soldo do faraó; a doce e evoluída Amonet; Lamech e Eber, ambos da fraternidade dos Essênios; Kenefer, bondoso e desprendido, esposo de Afra e de Kya (mais tarde, ele concede o divórcio a esta, pois Kyia se apaixonara profundamente por Proteu de Mileto).

O ponto central da trama – considerado de um ângulo mais superficial – é a busca do Alef, um documento que não deve cair em mãos escusas e por isso mesmo recebe toda a proteção possível. Reza a lenda, aquele que o ler morrerá inapelavelmente. Em termos mais profundos, a obra trata das preparações necessárias à vinda da Grande Estrela (Jesus), fato que ocorrerá uns quatrocentos anos mais tarde do momento histórico abordado pela obra.

Abordando algumas encarnações dessa galeria de personagens, sempre acessorados por uma equipe de espíritos trabalhadores no planejamento da reencarnação do Logos Planetário, a obra nos mostra, de modo cabal, a oportunidade de evolução concedida àqueles espíritos que resolvem aproveitá-las. Uns se perdem nos desvãos de suas vidas pequenas; outros se encontram a cada passo.

É assim que Haemon, Eber, Amonet e Kenefer tiram o melhor proveito possível de suas experiências reencarnatórias; todos terão papel de importância nas preparações para o grande evento do cristianismo – mas o destaque mesmo será Haemon. Kyia é um espírito ainda permeável às más sugestões de seu próprio ego e de espíritos não comprometidos com o bem.

Algumas passagens podem ser transcritas para a degustação do leitor, sem entregar spoilers:

“O que eles ainda não sabiam era que não se tratava de voltar ao tempo de Chefrem e sim de voltar para dentro de si mesmos em busca de suas próprias memórias do tempo em que tinham vivido no reinado de Chefrem; de lembranças arquivadas na memória do espírito imortal, no eu maior, no inacessível à memória física pelo simples fato de o físico não as possuir. O corpo fora criado para aquela reencarnação e continha informações sobre ela, ao passo que o ser imortal que ali habitava fora criado muitos milênios antes, e guardava informações que nem caberiam nele.” (página 239)

“- Com certeza um dia terão de se separar a fim de que canalizem esse amor para a caridade pura. Se assim não for ficarão estacionados, amando-se mutuamente, sem crescer no amor universal que é o plano maior.” (página 247)

“- Acredito que o plano maior era despertar em vocês um bom sentimento, e o melhor jeito de fazê-lo é justamente este: um nascer como homem e o outro como mulher. E para acelerar o processo, o ato de cuidar e ser cuidado desperta em um a compaixão e no outro a gratidão, duas emoções maravilhosas que, com a mistura dos sexos opostos, resultam no sentimento primitivo que evoluirá com certeza para o amor universal.” (páginas 254)

Portanto, temos aí uma trama envolvente, com ingredientes da paixão entre seres, superação de obstáculos difíceis, reforma íntima, busca persistente da solução de um segredo, revelações sobre o projeto para a vinda do Cristo à Terra, influência de espíritos degredados de Capela (tema tão caro ao espiritismo), a constante assistência espiritual em nossas vidas, a sempre nefasta obsessão de espíritos trevosos. E tudo isso embalado pelo talento na condução do sequenciamento de ações e construção dos personagens, além do uso adequado da escolha pelo português formal.

Alef é uma obra para leitura e releitura. É livro para se ter em uma biblioteca particular. Como toda boa literatura espírita, fornece-nos conhecimentos, reflexões para o nosso próprio engrandecimento e melhor compreensão das leis divinas e da essência dessa fantástica doutrina chamada Espiritismo.

PEREIRA, Elizabeth, espírito Sophie. Alef. Vivaluz Editora, 1ª Edição. Atibaia, SP: 2014.

domingo, 16 de novembro de 2014

França–Um Romance no Tempo dos Cátaros, de Mônica Dabus

Este é o segundo trabalho psicográfico de Mônica Bueno de Araújo Dabus e o Grécia – um romance no tempo dos deuses foi o primeiro.

A autora nasceu em 15/04/1964. Tem formação em Desenho Industrial pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo; casada com André Dabus, tem três filhos.

A partir de 2003, depois de concluir um curso de espiritismo e mediunidade, passou a atuar como médium, principalmente no campo da psicografia dos trabalhos ditados pelo espírito Liz, autor espiritual dos seus dois romances.

O catarismo foi um movimento cristão de ascetismo extremo na Europa Ocidental, ocorrido entre os anos de 1.100-1.200, na região hoje conhecida como Languedoc, França. Especialmente forte na então Occitania, com manifestações localizadas na cidade de Albi – motivo pelo qual os Cátaros também serem chamados de albigenses. Constituiu-se num movimento de oposição às orientações emanadas da Igreja Católica Romana que, por esse motivo, acabou por deflagrar uma guerra santa contra eles, conhecida como Cruzada.

Basicamente, os cátaros acreditavam na preponderância do espírito sobre a matéria, mas caracterizando o reino espiritual como criação do Deus bom, de um lado; de outro, a matéria, corruptora daquele, como obra do Deus mau. Defendiam a ideia da reencarnação e rejeitavam os que se casavam pela segunda vez, bem como recusavam a possibilidade de penitência (o perdão após o batismo). Possuíam um exigente conjunto de obrigações que os levavam à perfeição e como único sacramento aceito, tinham o consolamentum, que poderia ser tomado apenas uma vez na vida. O uso comum era que os albigenses o recebessem em seus leitos de morte, como uma espécie de extrema unção. A crença na comunicação com os espíritos dos mortos era corrente entre esses praticantes.

França – Um Romance no Tempo dos Cátaros é, portanto, uma história que vai se localizar no século XVII, num ambiente em que a descaracterização do evangelho promovida pelo poder eclesiástico era patente. A Igreja Católica, com base romana, era o poder central, religioso e político a um só tempo. O papa era o representante direto de Deus na terra e não se admitia qualquer desobediência.

Nesse ambiente movem-se os personagens do romance. Claire é uma jovem de beleza incomum e acaba por atrair Raoul, um nobre impulsivo. Entretanto, a família dele tinha outros planos e leva-o a contrair núpcias com outra jovem. Mais tarde, já casada com Júlio, volta a sofrer com as investidas persistentes de Raoul. Numa oportunidade, é estuprada por ele e dessa relação Claire engravida. A gestação vem a termo; envergonhada e poupando o marido dos dissabores, não revela a ele a verdade. A mãe desencarna nos braços de Annie, implorando-lhe que cuide da pequena Catherine.

Annie conhece Pierre quando ela cantava com as crianças numa modesta vivenda  cedida ao grupo. Já houvera sido avisada de que um espírito muito caro ao seu, conhecido de outras vidas na terra, estaria ao seu lado. Seu mentor propusera-lhe seguir seu coração e obedecer aos desígnios maiores.

O enredo prossegue, caracterizando o movimento cátaro como uma espécie de predecessor do espiritismo; de fato, há vários pontos de contato. Não obstante, o “atrevimento” albigense trará a ira de muitos sobre ele. Nuvens escuras se movimentam no céu. Tudo se precipita com o assassinato de Pierre de Castelnau, delegado do Papa Inocêncio III, quando voltava para Roma. O Papa, então, lança a Cruzada contra os albigenses.

Catherine em tudo é diferente do pai Júlio, da tia Annie e do marido desta, Pierre. Não tem qualquer afinidade com as ideias e ideais cátaros; não aceita a mediunidade da tia. Seus atos, dentro do livre arbítrio, entretanto, lhe trarão sérias consequências. Mais uma vez, velhas dívidas do passado desencadearão situções no presente. E os seres, nelas envolvidos, tendo a chance de resgatarem-nas, perdem ainda dessa vez a preciosa oportunidade ofertada a eles.

Perseguições, guerras, lutas fratricidas, intolerâncias, exercício equivocado de poder, vinganças e – sobretudo – interesses político-religiosos fazem parte da erradicação do movimento cátaro. Mas as ideias não morrem, os ideais persistem e mais tarde, muito das práticas e dos conhecimentos daqueles rebeldes revive em outro ambiente cultural, igualmente na França, sob a denominação do espiritismo.

Percebe-se, claramente, por meio desta interessante obra espírita, o conceito de que há tempos a Espiritualidade Maior trabalha para implantar de vez o primado do espírito e a recuperação moral da humanidade. São motivos bastantes para a recomendação dessa leitura.

A História é imprescindível para aprendermos a evitar erros do passado e construirmos um presente mais saudável. Afinal, nossas escolhas são livres, mas não as consequências.

DABUS, Mônica Bueno de Araújo. França – Um Romance no Tempo dos Cátaros. Bauru, SP: CEAC Editora, 2014.